terça-feira, 5 de abril de 2011

DEVEMOS RESPEITAR OS CAMINHOS DE APRENDIZAGEM DE NOSSOS FILHOS


"Ninguém é capaz de resolver um grande problema se não tiver ultrapassado, ao longo da vida, as pequenas etapas"
                                                                                                                                                                                       Içami Tiba


Conversando, observando e pesquisando sobre relacionamento de pais e filhos, às vezes chego a pensar que ser filho não é tão fácil assim.

Cada geração vive em períodos diferentes da história, de conhecimento, de cultura, de consciência, de aprendizado, da religião, de espiritualidade, avanços materiais, tecnológicos e outros muitos. 

As verdades pregadas no passado, hoje não são mais verdades, os pecados do passado, muitos não existem mais. Muitos conceitos sobre vários comportamentos, do bem, do mal, do certo e do errado, mudaram.  Muitas atitudes - hoje comuns e aceitas por todos - se estivessem no passado, toda a humanidade estaria no inferno ou queimada pela “Santa Inquisição”.

Mudanças de geração para geração sempre aconteceram e sempre irão acontecer. Sejam elas de cunho moral, religioso, cultural, educacional, espiritual e etc. Faz parte do “caminhar” da humanidade. Nunca ficamos parados no tempo.

 O que nós, pais, devemos é procurar entender essas mudanças e acompanhá-las para que possamos conviver em harmonia com nossos filhos e com o mundo.

Vejo e ouço muitos pais reclamando dos filhos a partir adolescência até a fase adulta. Criticam o comportamento, as atitudes, estilos das roupas, cortes de cabelo, estilo da linguagem e etc.

Devido essa visão os pais muitas vezes proíbem seus filhos de viver cada fase por medo, por insegurança, por egoísmo, alguns chegam a afirmar que é por amor. Não acredito que o amor sem o egoísmo seja capaz de tirar a liberdade, a oportunidade de aprendizado dos filhos.

Para alguns pode até parecer libertinagem, que os filhos estão “perdidos”, sem rumo ou irresponsáveis. Mas na verdade são experiências, estudos e aprendizados que servirão para vida. 

Logicamente, não estou incentivando os filhos a não terem limites, responsabilidades e bom senso em suas atitudes e comportamentos, e tão pouco aos pais a largarem seus filhos em uma vida sem regras, normas e limites.

Acredito que esses pais que não viveram ou não passaram pelas fases da vida como ser criança na sua plenitude, curtir as descobertas da adolescência e viver a liberdade da juventude, esses Seres humanos - como pessoas e pais - estão incompletas, vazias em uma parte de suas almas.

Como consequências dessa visão, os filhos escondem algumas atitudes, comportamentos e até vícios de seus pais. Para não serem repreendidos, julgados, criticados e ser ainda mais rejeitados por aqueles que deveriam acompanhá-los orientando e compartilhando a vida, buscando o aprendizado com seu apoio e sua companhia.

Quero dizer que cada um de nós deve passar pelas fases que a vida nos oferece e vivê-las com responsabilidade, limites e regras para que possamos aprender com elas. E também com alegria e profundidade.  Somos Seres Espirituais e estamos aqui para aprender e compartilhar aprendizados. Principalmente sobre o Amor.

O ser humano vive em etapas. Em cada época há uma oportunidade de aprendizados e experiências únicas de cada ciclo ou fase de maturidade pessoal.  Assim, os filhos tem o direito de viverem suas fases de aprendizados e os pais o dever de proporcionar um caminho mais suave e permitir que eles vivenciem cada etapa com acompanhamento e sabedoria dos pais.

No percurso de nossas vidas, sejam elas estudantil, social, profissional, encontramos pessoas – professores, vizinhos, profissionais, colegas e etc. – de difíceis relacionamentos, egoístas, incompreensíveis, falsas, mentirosas, dominadoras, maldosas e por aí vai. Se formos buscar a vida pregressa desses indivíduos, será constatado que houve deficiência em suas vivencias em algumas ou todas as fases da vida.

Nosso filho tinha dezesseis anos de idade quando chegou para mim e disse que queria passar o carnaval em Porto Seguro – BA com um casal amigo.

Comecei argumentar para tentar convencê-lo a não ir por que era perigoso e blá, blá, blá. Uma frase dele me calou. Com toda confiança ele afirmou: “Pai, o medo é seu e não meu. Você tem que controlar seu medo. Eu não estou com medo”. Calei-me.
Sabia que naquele momento tinha que tomar uma decisão acertada. A decisão que tomasse iria influenciar para sempre a vida dele, da irmã e nossa. Apreensivo, concordei com ele. 

Anos depois tive outra experiência parecida com nossa filha. Ela queria morar sozinha. Isso me inquietava tanto que eu não dormia de tanta ansiedade. Um dia pedi para ela me convencer. A resposta que ela me deu foi: “Pai é meu sonho. Sempre tive esse sonho”. 

Nesse momento meu coração encheu de emoção e eu procurei compreende-la e respeita-la pela busca de um sonho. Nas duas situações tive a oportunidade de demonstrar que meu amor a eles era muito maior que meu medo e meu ego. Para mim foi um grande aprendizado. E até hoje me emociono pelo aprendizado de todos nós.

Verdadeiramente acredito que não é fácil ser filho. Os pais têm “o poder” de dar ou retirar a coragem, o sonho, a alegria e o aprendizado de seus filhos que contribui para uma vida sem felicidade, sem alegria, sem coragem e de magoa em relação aos seus pais. Simplesmente por ser mais fácil e cômodo proibi-los do que enfrentar nossos medos e limitações que trazemos do passado. Como também os pais podem se livrar do medo, do ego, e usar a sabedoria e amor para lançar os filhos aos seus sonhos, às buscas e aprendizados que a vida lhes oferece.