quarta-feira, 20 de julho de 2011

ABANDONO EMOCIONAL DOS PAIS


Como os pais têm grandes responsabilidades pelos futuros resultados na vida dos seus filhos!

Perto de onde moro existe um bar que é freqüentado diariamente por vários senhores. Logo no inicio da manhã eles vão chegando e permanecem durante todo o dia até o final da tarde, hora que retornam às suas casas. 

Essa cena e o comportamento desses senhores, de um tempo para cá, vinha me deixando intrigado. Por causa disso resolvi tirar uns minutos sempre que tivesse oportunidade para conversar com eles e saber um pouco sobre suas vidas.

Na primeira oportunidade cheguei, sentei e puxei assunto com alguns deles. Falaram-me sobre a amizade, o companheirismo, o local, atendimento do dono do bar e sobre a oportunidade de passar o tempo ali com os companheiros.   


Já na segunda vez com mais liberdade e após as brincadeiras costumeiras do ambiente, enquanto conversava com dois deles, os mais antigos frequentadores, chegamos ao assunto família – que era meu objetivo principal. Perguntei sobre suas esposas e filhos.

A resposta: aqui somos “largados”.  Segundo eles, suas esposas e filhos não querem saber deles. Eles têm suas vidas e as esposas e os filhos as suas.

Mais conversas e toquei sobre os seus relacionamentos com seus pais. Inicialmente elogios demasiadamente sem emoção.  Mais no decorrer da conversa ia emergindo de seus corações sentimento de solidão, rejeição, abandono, tristeza, tudo isso somado a magoas, ressentimentos, raiva e desesperança sobre a vida e o relacionamento que tiveram com os pais quando criança e na adolescência.

Pelas suas narrativas esses senhores foram rejeitados, abandonados emocionalmente, incompreendidos, desrespeitados, cobrados, criticados, atingidos em seus corações, torturados física e emocionalmente pelos seus pais.

Hoje esses senhores dizem que compreendem e entendem as atitudes e comportamentos de seus genitores. No entanto é possível perceber que as marcas já estão lá em suas almas e difíceis de serem arrancadas.

As conseqüências das atitudes e comportamentos no passado pelos os pais desses senhores podem vim atingir ou já atingem as gerações de descendentes. 


Podemos inferir que seus filhos também tenham sofrido ou ainda sofrem algum tipo de carência, rejeição, solidão, distanciamento, falta do carinho, falta do abraço, falta do companheirismo e falta da presença.  Se esses filhos de hoje não tiverem a capacidade, a força e determinação de superar essas carências, também irão passar para a sua próxima geração.   

Logicamente não podemos condenar, julgar e nem tão pouco criticar os pais desses senhores em ter tido atitudes e comportamentos que trouxeram todos esses sentimentos aos seus filhos. Imagino que deram o melhor que tinham e o que achavam que era o correto, na sua época.

E para esses senhores freqüentadores do bar - pais atuais -este é o meio encontrado por eles para aliviar a dor da carência, do abandono e os demais sentimentos negativos. O nosso sentimento deve ser de compaixão e compreensão por que também são vitimas de vitimas com já dissemos aqui nesse blog.

Na verdade não são os únicos. Se observarmos ao nosso redor encontraremos filhos e filhas de todas as idades em situações semelhantes, mesmo que seja em graus diferentes.  


Pessoas que seus pais não conseguem se aproximar, não conseguem pedir perdão, desculpas pelos seus mal entendidos, não conseguem conversar sobre algo que perturba o relacionamento, não conseguem abraçar o filho ou a filha quando vai fazer uma viagem, não conseguem abraçar o filho ou a filha quando vai dormir, não conseguem ficar sozinho com os filhos, não conseguem ter liberdade até mesmo de brincar com seus filhos e etc.

Conheço muitos pais que confessam ter vontade de abraçar seus filhos e filhas, adolescentes ou adultos, de demonstrarem carinho, de serem companheiros, de partilhar seus sentimentos, partilhar sua vida, conversar sobre suas duvidas e ter a liberdade de convidá-los a qualquer momento para saírem sem nenhum motivo a não ser para ficarem juntos. 

Mas sentem vergonha, sentem-se sem liberdade e sem iniciativa para fazê-lo. Uma verdadeira pena, acredito que ambos perdem.

Como conseqüências esses filhos e filhas vão procurar anestesiarem-se de todas essas carências em suas almas de alguma forma.

Acredito que eles - filhos e filhas - terão dificuldades de relacionamentos em seus empregos, na sociedade, em suas famílias e principalmente consigo mesmo.

Nós pais podemos demonstrar nosso amor de muitas formas a nossos filhos. Podemos ser companheiros, podemos perder a vergonha e a timidez para abraçá-los, beijá-los, podemos ter a mesma simplicidade no relacionamento de que quando eles eram crianças e sentir ternura e admiração, podemos ser fonte de coisas boas, não só coisas materiais, mas coisas do coração e da alma.

Assim, tenho certeza que os corações serão leves, confiantes, alegres, felizes e de bem com a vida e com o mundo. Com isso podemos encontrar bem menos senhores e jovens ancorados diariamente em “bares” consumindo doses de “anestésicos” para  para aliviar suas dores e tristezas na alma e no coração,  em vez de estarem amando e compartilhando suas vidas com seus familiares. Vivendo feliz.