
Nesse momento, se aproximou de mim um senhor de uns setenta e cinco anos de idade, de movimentos muito lentos, e começamos a conversar. Observei que tinha estudo, não era uma pessoa sem conhecimento.
Após os cumprimentos iniciais, a primeira frase que este senhor me falou foi: “Sinto uma solidão muito grande. Uma solidão profunda” e deu para ver em seu rosto o sentimento mais profundo de abandono. Indaguei sobre sua família – esposa e filhos. Ele me contou como era seu relacionamento com a esposa e filhos.
Ela, a esposa, morava numa cidade do interior do estado e ele em um apartamento na capital, e passavam até seis meses sem se encontrarem. Na avaliação dele o máximo que conseguiam ficar juntos, sem que ela o humilhasse, o inferiorizasse, reclamasse e o desqualificasse, era uma hora. Então para ele era muito dolorido e às vezes depressivo ir encontrá-la.
E quanto aos filhos? Perguntei. Os filhos, no total de sete, passavam mais de ano sem procurá-los, tanto ele, pai, como a mãe. Algumas vezes os encontravam por acaso. Numa dessas ocasiões descobriu que tinha uma netinha com dois anos de idade.
Segundo ele, não culpava os filhos, nem a nora e nem o genro, e sim a vida que ele levou sem compartilhar com a família, e por desamor a esposa. Por outro lado, a esposa por ter uma personalidade arrogante, dura, dominadora e insensível tanto com a família como para as pessoas em geral.
Os dois – esposo e esposa - vivem na completa solidão segunda a conclusão desse senhor. Ele demonstrou, ainda assim, um “orgulho” por não ter se divorciado/separado da esposa. Por que eram casados na igreja, eles não podiam se separar. Foi assim que o religioso da igreja deles os orientou. “Eles não podiam e nem queriam viver em pecado e nem serem castigados por Deus”.
Conversamos mais alguns assuntos e ele foi embora. Fiquei pensando sobre esse senhor durante horas e ainda hoje penso. E me pergunto: quantos deste senhor e senhora existem pelo mundo?
Na minha avaliação acho uma maldade esse tipo de “orientação religiosa”, falta de Sabedoria e Amor. Esta família – pai, mãe e filhos - poderiam ter uma vida feliz. O pai e a mãe poderiam recomeçar suas vidas formando outra família. Encontrarem outras pessoas e iniciarem uma vida harmoniosa, feliz, com respeito a si próprio e os outros. Esses filhos poderiam ter pai e mãe alegres, realizados, felizes, e visitá-los em seus lares, com sentimentos de amor e admiração pela coragem, dos pais, em reavaliar a vida e decidir pelo um caminho melhor, pelo amor, pela sabedoria e pela vida.
Existem milhares ou mesmo milhões de casais, no mundo, que descobrem que a primeira decisão do casamento com aquela pessoa foi um engano ou era necessário aquele aprendizado, aos dois, até aquela etapa. E decidem romper os laços do matrimonio, mas não da amizade, do respeito a si e ao outro e preservando a vida dos filhos num ambiente de harmonia, paz, lealdade e honestidade consigo e com o outro. E saem do relacionamento mais sábios, mais completos e prontos para um novo ciclo da vida.
Sem se importar com regras, dogmas, tradições culturais, “leis” criadas dentro de instituições, sejam elas religiosas, filosóficas ou institucionais. Seguem somente a lei do Amor e do respeito em beneficio ao futuro dos membros da família, principalmente aos filhos e seus descendentes.
Analisando a vida dos membros dessa família - pai e mãe - na profunda solidão e abandono demonstram verdadeiros rivais, inimigos não declarados, com ressentimentos, magoas, e tristezas. Por outro lado os filhos sem a companhia e amizade do pai, sem o aconchego e dedicação da mãe, e os netos sem o carinho e o amor dos avôs. Isso para mim é o pior dos pecados, o pior dos castigos.
Não acredito que Deus um ser Divino com os atributos da Sabedoria, Amor e da Vida exija tamanho sofrimento que possa marcar profundamente as almas e corações dos seus filhos. Só posso acreditar que isso seja invenção do homem, que através do medo, impõem aos seguidores religiosos regras, leis e dogmas, e assim controlar vida e alma dessas pessoas.