"Ter filhos é desejar um mundo melhor"

Ela, com expressão de
decepção, tristeza e angústia, contou-me sua experiência em relação aos seus
sogros no papel de avós de seus dois filhos e sobre a ingerência deles em sua
família.
Disse: “Meu marido não
tem forças e determinação para impor os limites e mostrar aos pais que agora
ele tem uma família, e que a responsabilidade dessa família é do casal. E nem
que agora ele é adulto.” Pude perceber que existia muita mágoa e ressentimentos
em suas palavras e no coração. Que triste!
Ainda me disse que o
casal está buscando orientação com profissionais especializados em terapias de
família.
A situação vivida por
essa jovem senhora despertou-me o sentimento de preocupação e responsabilidade
para o nosso papel de avós.
A formação de uma nova
família e a chegada de um novo membro são motivos de felicidades e alegria para
todos. No entanto, quando algumas pessoas da família se “embaraçam” no destino
de outros, terminam por causar aprisionamento. Nesses casos o amor não pode ser
bem sucedido.
O formato de cada família
é de responsabilidade de sua geração. Cada qual, de acordo a sua época, tem
seus sistemas de crenças, níveis diferentes de compreensão espiritual, moral,
intelectual e diferentes maneiras de lidar com as diversas situações.
Cada família com sua
dinâmica – mesmo mesclando a cultura das duas famílias originais– ainda assim é única. Tem seus próprios
sonhos, sua energia própria, seu caminho a seguir. É uma terceira formação que
será de conformidade com missão de seus membros, pertencente somente àqueles que
fazem parte desse novo núcleo.
Acredito que a geração
anterior já teve sua oportunidade na época adequada àquela família que formou.
Com acertos ou não, passou. Não será mais possível consertar possíveis erros e
impor os seus “reconhecidos” acertos, principalmente dentro do ambiente
familiar dos filhos e netos. A missão agora é deles.
Nos consultórios de
terapias familiares e de casais, filhos e filhas, noras e genros, vivem em
busca de soluções para suas angustias, ansiedades, tristezas e incertezas por
causas atribuídas aos comportamentos e interferências de pais, mães e avós no
seu ambiente familiar, na educação e cuidados com os netos. É o caso da jovem senhora que mencionei no início
do texto.
Alguns pais e avós,
pela experiência que a vida lhes proporcionou, têm o julgamento de que sua capacidade
lhes dá o “direito” de interferir e orientar a vida dos filhos e netos.
Acredito que realmente os filhos – jovens casais - e os netos, nessa fase da vida, têm grande necessidade dos conhecimentos, da experiência, da disponibilidade e da colaboração dos pais e avós. É uma ajuda necessária e maravilhosa. Porém ela deve vim acompanhada do bom senso, sabedoria e equilíbrio.
Se essa ajuda chegar de
forma desordenada, desequilibrada, e sob a forma de controle e domínio no
ambiente sobre os membros da nova família, a consequência natural será críticas,
julgamentos e reclamações de ambos os lados.
O que poderia ser relações
harmoniosas, alegres, felizes, de colaboração, respeito e confiabilidade, se
torna experiência dolorosa, angustiante e de tristeza. Isso causa afastamentos, distanciamentos e
falta de intimidade e liberdade entre pais e filhos, e avós e netos. E essa
dinâmica de relacionamento se estende mesmo na fase adulta dos netos.
Ainda nesse ambiente
alguns avós criam um tipo de “jogo de poder” sujeitando os pais e os netos a algum
tipo de disputa familiar com o propósito de chamar para si a atenção, o carinho
e o amor dos netos. Este tipo de comportamento é muito perigoso para a formação
psicológica, moral e emocional dos netos e para o relacionamento entre o casal
e seus pais.
Alguns avós chegam a
colocar em confronto pais e filhos, com objetivo de controlar os netos e
demonstrar mais poder a nora, ao genro ou filho e filha. Cria-se uma situação
complexa e embaraçosa.
Nos relatos de casos
dos consultórios psicológicos e nos seminários de terapias alternativas
encontramos mães e pais que chegam em desespero, angústia e tristeza em ter que
lidar com esse tipo de disputas e desarmonias.
A orientação da maioria
dos profissionais em relacionamentos familiares é que casal deve “criar uma
barreira” em torno de sua família com objetivo de protegê-la da energia de
disputa, intromissão e controle dos avós e outros membros familiares cujas
atitudes colaboram para o desequilíbrio na formação familiar.
Por outro lado, existem
avós e avôs que contribuem enormemente com a educação e criação dos seus netos
de forma discreta, harmoniosa, respeitando os princípios e as regras “estabelecidas”,
os gostos, as crenças e os sonhos da nova família. Simplesmente com amor e
carinho aos seus descendentes, sem disputas, críticas e julgamentos.
Na nossa experiência os
nossos filhos foram educados e criados com o auxílio da minha sogra – como é da
nossa cultura, os filhos geralmente seguem a família da mãe.
Nosso sentimento é que ela
teve um papel importantíssimo da vida deles. Posso afirmar que em nenhum
momento nos sentimos ameaçados de que os “limites estabelecidos” pela nossa
nova família fossem por ela negligenciados. Parece que mesmo sem esses limites
terem sidos mencionados ou declarados, ela os tinham claramente em sua mente.
Isso contribuiu
bastante para que nossos filhos soubessem de onde vinham as orientações, as decisões,como
seriam e de onde vinham os apoios, onde buscar os esclarecimentos, as respostas
e principalmente, onde era o núcleo da nossa família. Tivemos resultado
positivo. E a ela temos a nossa maior gratidão. Até hoje a influencia da avó e
do avô é forte e benéfica à vida deles.
Quando os pais educam, criam e formam seus
filhos num ambiente em que eles sabem quem ditam as regras, quem resolvem os
conflitos, a quem eles devem recorrem em situações de riscos, a quem recorrer
nos momentos emocionais complexos, e tem em suas mentes os limites bem
delineados do seu ambiente familiar, os filhos sentem-se seguros, alegres,
confiantes, verdadeiros, crescem amorosos e harmoniosos.
Percebi que os avós tem
grande responsabilidade de contribuir para não desestabilizar os
relacionamentos na família dos filhos com comportamentos e atitudes exageradas.
Devemos nos lembrar que cada pessoa tem sua missão específica e não podemos e
nem temos direito de tomar o lugar de ninguém no caminho da evolução.