sábado, 5 de maio de 2012

AMOR DOS AVÓS DEVE SER COM SABEDORIA


"Ter filhos é desejar um mundo melhor"



Eu já havia concluído o texto anterior – “AMOR DOS AVÓS” - quando encontrei uma jovem senhora conhecida e nas nossas conversas contei-lhe a felicidade com a notícia de que íamos ser Avós.

Ela, com expressão de decepção, tristeza e angústia, contou-me sua experiência em relação aos seus sogros no papel de avós de seus dois filhos e sobre a ingerência deles em sua família.

Disse: “Meu marido não tem forças e determinação para impor os limites e mostrar aos pais que agora ele tem uma família, e que a responsabilidade dessa família é do casal. E nem que agora ele é adulto.” Pude perceber que existia muita mágoa e ressentimentos em suas palavras e no coração. Que triste!

Ainda me disse que o casal está buscando orientação com profissionais especializados em terapias de família. 

A situação vivida por essa jovem senhora despertou-me o sentimento de preocupação e responsabilidade para o nosso papel de avós.

A formação de uma nova família e a chegada de um novo membro são motivos de felicidades e alegria para todos. No entanto, quando algumas pessoas da família se “embaraçam” no destino de outros, terminam por causar aprisionamento. Nesses casos o amor não pode ser bem sucedido.

O formato de cada família é de responsabilidade de sua geração. Cada qual, de acordo a sua época, tem seus sistemas de crenças, níveis diferentes de compreensão espiritual, moral, intelectual e diferentes maneiras de lidar com as diversas situações.

Cada família com sua dinâmica – mesmo mesclando a cultura das duas famílias originais–  ainda assim é única. Tem seus próprios sonhos, sua energia própria, seu caminho a seguir. É uma terceira formação que será de conformidade com missão de seus membros, pertencente somente àqueles que fazem parte desse novo núcleo.

Acredito que a geração anterior já teve sua oportunidade na época adequada àquela família que formou. Com acertos ou não, passou. Não será mais possível consertar possíveis erros e impor os seus “reconhecidos” acertos, principalmente dentro do ambiente familiar dos filhos e netos. A missão agora é deles.

Nos consultórios de terapias familiares e de casais, filhos e filhas, noras e genros, vivem em busca de soluções para suas angustias, ansiedades, tristezas e incertezas por causas atribuídas aos comportamentos e interferências de pais, mães e avós no seu ambiente familiar, na educação e cuidados com os netos.  É o caso da jovem senhora que mencionei no início do texto.      

Alguns pais e avós, pela experiência que a vida lhes proporcionou, têm o julgamento de que sua capacidade lhes dá o “direito” de interferir e orientar a vida dos filhos e netos.


Acredito que realmente os filhos – jovens casais - e os netos, nessa fase da vida, têm grande necessidade dos conhecimentos, da experiência, da disponibilidade e da colaboração dos pais e avós. É uma ajuda necessária e maravilhosa. Porém ela deve vim acompanhada do bom senso, sabedoria e equilíbrio.

Se essa ajuda chegar de forma desordenada, desequilibrada, e sob a forma de controle e domínio no ambiente sobre os membros da nova família, a consequência natural será críticas, julgamentos e reclamações de ambos os lados. 

O que poderia ser relações harmoniosas, alegres, felizes, de colaboração, respeito e confiabilidade, se torna experiência dolorosa, angustiante e de tristeza.  Isso causa afastamentos, distanciamentos e falta de intimidade e liberdade entre pais e filhos, e avós e netos. E essa dinâmica de relacionamento se estende mesmo na fase adulta dos netos.

Ainda nesse ambiente alguns avós criam um tipo de “jogo de poder” sujeitando os pais e os netos a algum tipo de disputa familiar com o propósito de chamar para si a atenção, o carinho e o amor dos netos. Este tipo de comportamento é muito perigoso para a formação psicológica, moral e emocional dos netos e para o relacionamento entre o casal e seus pais.

Alguns avós chegam a colocar em confronto pais e filhos, com objetivo de controlar os netos e demonstrar mais poder a nora, ao genro ou filho e filha. Cria-se uma situação complexa e embaraçosa.

Nos relatos de casos dos consultórios psicológicos e nos seminários de terapias alternativas encontramos mães e pais que chegam em desespero, angústia e tristeza em ter que lidar com esse tipo de disputas e desarmonias.

A orientação da maioria dos profissionais em relacionamentos familiares é que casal deve “criar uma barreira” em torno de sua família com objetivo de protegê-la da energia de disputa, intromissão e controle dos avós e outros membros familiares cujas atitudes colaboram para o desequilíbrio na formação familiar.

Por outro lado, existem avós e avôs que contribuem enormemente com a educação e criação dos seus netos de forma discreta, harmoniosa, respeitando os princípios e as regras “estabelecidas”, os gostos, as crenças e os sonhos da nova família. Simplesmente com amor e carinho aos seus descendentes, sem disputas, críticas e julgamentos.

Na nossa experiência os nossos filhos foram educados e criados com o auxílio da minha sogra – como é da nossa cultura, os filhos geralmente seguem a família da mãe.

Nosso sentimento é que ela teve um papel importantíssimo da vida deles. Posso afirmar que em nenhum momento nos sentimos ameaçados de que os “limites estabelecidos” pela nossa nova família fossem por ela negligenciados. Parece que mesmo sem esses limites terem sidos mencionados ou declarados, ela os tinham claramente em sua mente.

Isso contribuiu bastante para que nossos filhos soubessem de onde vinham as orientações, as decisões,como seriam e de onde vinham os apoios, onde buscar os esclarecimentos, as respostas e principalmente, onde era o núcleo da nossa família. Tivemos resultado positivo. E a ela temos a nossa maior gratidão. Até hoje a influencia da avó e do avô é forte e benéfica à vida deles.  

Quando os pais educam, criam e formam seus filhos num ambiente em que eles sabem quem ditam as regras, quem resolvem os conflitos, a quem eles devem recorrem em situações de riscos, a quem recorrer nos momentos emocionais complexos, e tem em suas mentes os limites bem delineados do seu ambiente familiar, os filhos sentem-se seguros, alegres, confiantes, verdadeiros, crescem amorosos e harmoniosos.

Percebi que os avós tem grande responsabilidade de contribuir para não desestabilizar os relacionamentos na família dos filhos com comportamentos e atitudes exageradas. Devemos nos lembrar que cada pessoa tem sua missão específica e não podemos e nem temos direito de tomar o lugar de ninguém no caminho da evolução.