segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

EXISTEM LEIS QUE REGEM O AMOR NO SISTEMA FAMILIAR


“Você é aquilo que você mais valoriza na vida.”  
“Você é aquilo pelo que está disposto a morrer.”                                                              

                             John Dewey


Quando escrevi o texto: PAIS CONTROLADORES E A VIDA DOS FILHOS o nosso filho caçula pediu-me para escrever também sobre os comportamentos de filhos.  Não visão dele existe alguns filhos e filhas que não demonstra gratidão e respeito pelos seus pais apesar destes fazerem o que podem pelos filhos. Achei interessante essa percepção.

 

Então resolvi pesquisar por que a convivência e o relacionamento entre pais e filhos são envolvidos por tantos sentimentos contraditórios como culpa, ressentimentos, magoa, tristezas, angustias. E do outro lado, amor, dedicação, doação, respeito e amparo. As conseqüências desses sentimentos em suas vidas seguem geralmente por toda a existência e estendem-se às gerações seguintes.

As Escrituras Sagradas das grandes religiões do mundo ensinam cada uma de sua forma, que os filhos devem: “honrar pai e mãe”. Acredito que para muitos filhos e filhas, esse sentimento não é tão simples de ser colocado em prática na sua totalidade, sem que exista alguma barreira emocional.

Para muitos pais e mães são desconhecidos os ensinamentos e orientações de como se livrar de suas próprias emoções negativas que receberam e carregam de seus próprios pais, que por sua vez receberam de seus antepassados, e evitar a transferência de parte deste “lixo emocional” para seus descendentes. 

Em 1980, filósofo e terapeuta alemão Bert Hellinger, desenvolveu um método ou técnica de acessar o inconsciente pessoal e coletivo da família através de procedimentos em grupos terapêuticos. Deu o nome de Constelação Familiar, depois de Movimentos da Alma, e atualmente Movimento do Espírito – uma Ciência dos Relacionamentos.

Esse método é um modo terapêutico de ação que tem como objetivo visualizar a “Ordem” na família, mostrando qual o lugar de cada um. Não é ditame, coerção, nem regras fixas, mas a ordem do amor. São leis naturais que governam todo o sistema familiar. O método recoloca o amor de cada membro da família no seu lugar e por isso tira um peso da alma de quem carrega funções que não lhe competem na hierarquia.

Hellinger observou em cada família (clã) as ordens que são necessárias e repetidas ao longo das gerações e em todos os grupos familiares. São elas: o pertencimento, a hierarquia e o equilíbrio. Ele denominou de “ordens do amor na família”.

No Pertencimento perpetuam os vínculos afetivos por amor profundo. Cada família (clã) ou grupo familiar exige que todos os seus membros tenham o mesmo direito de pertencer. Essa exigência é inconsciente/oculta. Essa ordem “oculta” ou inconsciente da família (clã) exige compensação, caso haja desordem e exclusão.
Então, os excluídos, negados ou esquecidos devem ser representados nas gerações futuras. Uns irão tomar o lugar do excluído e farão igual na geração posterior. Aí está o destino.
Na Hierarquia da família (clã) ninguém pode tomar o lugar do outro. A ordem é sempre dos mais antigos para os mais novos. Não se pode inverter a ordem na família, e os mais novos não devem tomar a si as dores dos mais antigos. Isso enfraquece a alma dos antecessores. A desordem, quando estabelecida, traz desequilíbrio e doenças. Esse desequilíbrio pode atravessar de três a quatro gerações com os mesmos distúrbios.

O Equilíbrio na família (clã) é restabelecido quando o sistema fica estável e quando o dar e o tomar se equilibram. O certo é que os pais dão e os filhos tomam aquilo que querem. A arrogância dos filhos para com os pais não ganha sentido positivo nas suas realizações de vida. Fracassam e exigem um peso excessivo aos filhos.

Nas palavras de Bert Hellinger a “Ordem do Amor entre pais e filhos” funcionam assim:
“O primeiro ponto é que os pais, ao darem a vida, dão à criança, nesse mais profundo ato humano, tudo o que possuem. A isso eles nada podem acrescentar, disso nada podem tirar. Na consumação do amor, o pai e a mãe entregam a totalidade do que possuem. Pertence, portanto, à ordem do amor que o filho tome a vida tal como a recebe de seus pais. Dela, o filho nada pode excluir, nem desejar que não exista. A ela, também, nada pode acrescentar.”

“O filho é os seus pais. Portanto, pertence à ordem do amor para um filho, em primeiro lugar, que ele diga sim a seus pais como eles são, sem qualquer outro desejo e sem nenhum medo. Só assim cada um recebe a vida: através dos seus pais, da forma como eles são.”

“Esse ato de tomar a vida é uma realização muito profunda. Ele consiste em assumir minha vida e meu destino, tal como foram dados através de meus pais. Com os limites que me são impostos. Com as possibilidades que me são concedidas. Com o emaranhamento nos destinos e na culpa dessa família, no que houver nela de leve e de pesado, seja o que for.”

“Essa aceitação da vida é um ato religioso. É um ato de despojamento, uma renúncia a qualquer exigência que ultrapasse o que me foi transmitido através de meus pais. Essa aceitação vai muito além dos pais. Preciso olhar para além deles, para o espaço distante de onde se origina a vida e me curvar diante de seu mistério. No ato de tomar os meus pais, digo sim a esse mistério e me ajusto a ele.”

“O efeito desse ato pode ser comprovado na própria alma. Imaginem-se curvando-se profundamente diante de seus pais e dizendo-lhes: “Eu tomo esta vida pelo preço que me custou a vocês e que custa a mim. Eu tomo esta vida com tudo o que lhe pertence, com seus limites e oportunidades”. Nesse exato momento, o coração se expande. Quem consegue realizar esse ato, fica bem consigo, sente-se inteiro.”

“Como contraprova, pode-se igualmente imaginar o efeito da atitude oposta, quando uma pessoa diz: “Eu gostaria de ter outros pais. Não os suporto como eles são”. Que atrevimento! Quem fala assim, sente-se vazio e pobre, não pode estar em paz consigo mesmo.”

“Algumas pessoas acreditam que, se aceitarem plenamente seus pais, algo de mal poderá infiltrar-se nelas. Assim, não se expõem à totalidade da vida. Com isto, contudo, perdem também o que é bom. Quem assume seus pais como eles são, assume a plenitude da vida como ela é.” 

Acredito que despertar esse sentimento no profundo da alma e do coração é um ato sublime. Um ato de evolução espiritual. A partir desse momento, imagino que a nossa vida, de nossos filhos, de nossos descendentes e das pessoas com quem convivemos terá outro sentido. Viveremos mais leves e com mais sabedoria no entendimento das relações familiares e podemos reverenciar nossos antepassados com mais sabedoria e amor sem apego, permitido que cada membro da família viva o seu “Destino.” Cada um com sua missão e no seu lugar no sistema familiar.

Ainda estou me aprofundando no estudo desse método terapêutico criado por Hellinger, mas acredito que é um caminho de conhecimento que possamos utilizar para entendimentos de muitas causas que afligem os relacionamentos de pais e filhos e que se estendem aos outros membros familiares.