“Você é aquilo que você mais valoriza na vida.”
“Você é aquilo pelo que está disposto a morrer.”
John Dewey
Quando
escrevi o texto: PAIS CONTROLADORES E A VIDA DOS FILHOS o nosso filho caçula
pediu-me para escrever também sobre os comportamentos de filhos. Não visão dele
existe alguns filhos e filhas que não demonstra gratidão e respeito pelos seus
pais apesar destes fazerem o que podem pelos filhos. Achei interessante essa percepção.
Então resolvi pesquisar
por que a convivência e o relacionamento entre pais e filhos são envolvidos por
tantos sentimentos contraditórios como culpa, ressentimentos, magoa, tristezas,
angustias. E do outro lado, amor, dedicação, doação, respeito e amparo. As
conseqüências desses sentimentos em suas vidas seguem geralmente por toda a
existência e estendem-se às gerações seguintes.
As Escrituras Sagradas das
grandes religiões do mundo ensinam cada uma de sua forma, que os filhos devem: “honrar
pai e mãe”. Acredito que para muitos filhos e filhas, esse sentimento não é tão
simples de ser colocado em prática na sua totalidade, sem que exista alguma
barreira emocional.
Para muitos pais e mães
são desconhecidos os ensinamentos e orientações de como se livrar de suas
próprias emoções negativas que receberam e carregam de seus próprios pais, que
por sua vez receberam de seus antepassados, e evitar a transferência de parte
deste “lixo emocional” para seus descendentes.
Em 1980, filósofo e
terapeuta alemão Bert Hellinger, desenvolveu um método ou técnica de acessar o
inconsciente pessoal e coletivo da família através de procedimentos em grupos
terapêuticos. Deu o nome de Constelação Familiar, depois de Movimentos da Alma,
e atualmente Movimento do Espírito – uma Ciência dos Relacionamentos.
Esse método é um
modo terapêutico de ação que tem como objetivo visualizar a “Ordem” na família,
mostrando qual o lugar de cada um. Não é ditame, coerção, nem regras fixas, mas
a ordem do amor. São leis naturais que governam todo o sistema familiar. O
método recoloca o amor de cada membro da família no seu lugar e por isso tira
um peso da alma de quem carrega funções que não lhe competem na hierarquia.
Hellinger observou
em cada família (clã) as ordens que são necessárias e repetidas ao longo das gerações
e em todos os grupos familiares. São elas: o pertencimento, a hierarquia e o
equilíbrio. Ele denominou de “ordens do amor na família”.
No Pertencimento
perpetuam os vínculos afetivos por amor profundo. Cada família (clã) ou grupo
familiar exige que todos os seus membros tenham o mesmo direito de pertencer.
Essa exigência é inconsciente/oculta. Essa ordem “oculta” ou inconsciente da
família (clã) exige compensação, caso haja desordem e exclusão.
Então, os
excluídos, negados ou esquecidos devem ser representados nas gerações futuras.
Uns irão tomar o lugar do excluído e farão igual na geração posterior. Aí está
o destino.
Na Hierarquia da
família (clã) ninguém pode tomar o lugar do outro. A ordem é sempre dos mais
antigos para os mais novos. Não se pode inverter a ordem na família, e os mais
novos não devem tomar a si as dores dos mais antigos. Isso enfraquece a alma
dos antecessores. A desordem, quando estabelecida, traz desequilíbrio e
doenças. Esse desequilíbrio pode atravessar de três a quatro gerações com os
mesmos distúrbios.
O Equilíbrio na
família (clã) é restabelecido quando o sistema fica estável e quando o dar e
o tomar se equilibram. O certo é que os pais dão e os filhos tomam aquilo
que querem. A arrogância dos filhos para com os pais não ganha sentido positivo
nas suas realizações de vida. Fracassam e exigem um peso excessivo aos filhos.
Nas palavras de
Bert Hellinger a “Ordem do Amor entre pais e filhos” funcionam assim:
“O primeiro ponto é que os pais, ao
darem a vida, dão à criança, nesse mais profundo ato humano, tudo o que
possuem. A isso eles nada podem acrescentar, disso nada podem tirar. Na
consumação do amor, o pai e a mãe entregam a totalidade do que possuem.
Pertence, portanto, à ordem do amor que o filho tome a vida tal como a recebe
de seus pais. Dela, o filho nada pode excluir, nem desejar que não exista. A
ela, também, nada pode acrescentar.”
“O filho é os seus pais. Portanto,
pertence à ordem do amor para um filho, em primeiro lugar, que ele diga sim a
seus pais como eles são, sem qualquer outro desejo e sem nenhum medo. Só assim
cada um recebe a vida: através dos seus pais, da forma como eles são.”
“Esse ato de tomar a vida é uma
realização muito profunda. Ele consiste em assumir minha vida e meu destino,
tal como foram dados através de meus pais. Com os limites que me são impostos.
Com as possibilidades que me são concedidas. Com o emaranhamento nos destinos e
na culpa dessa família, no que houver nela de leve e de pesado, seja o que for.”
“Essa aceitação da vida é um ato
religioso. É um ato de despojamento, uma renúncia a qualquer exigência que
ultrapasse o que me foi transmitido através de meus pais. Essa aceitação vai
muito além dos pais. Preciso olhar para além deles, para o espaço distante de
onde se origina a vida e me curvar diante de seu mistério. No ato de tomar os
meus pais, digo sim a esse mistério e me ajusto a ele.”
“O efeito desse ato pode ser
comprovado na própria alma. Imaginem-se curvando-se profundamente diante de
seus pais e dizendo-lhes: “Eu tomo esta vida pelo preço que me custou a vocês e
que custa a mim. Eu tomo esta vida com tudo o que lhe pertence, com seus
limites e oportunidades”. Nesse exato momento, o coração se expande. Quem
consegue realizar esse ato, fica bem consigo, sente-se inteiro.”
“Como contraprova, pode-se igualmente
imaginar o efeito da atitude oposta, quando uma pessoa diz: “Eu gostaria de ter
outros pais. Não os suporto como eles são”. Que atrevimento! Quem fala assim,
sente-se vazio e pobre, não pode estar em paz consigo mesmo.”
“Algumas pessoas acreditam que, se
aceitarem plenamente seus pais, algo de mal poderá infiltrar-se nelas. Assim,
não se expõem à totalidade da vida. Com isto, contudo, perdem também o que é
bom. Quem assume seus pais como eles são, assume a plenitude da vida como ela
é.”
Acredito
que despertar esse sentimento no profundo da alma e do coração é um ato
sublime. Um ato de evolução espiritual. A partir desse momento, imagino que a
nossa vida, de nossos filhos, de nossos descendentes e das pessoas com quem
convivemos terá outro sentido. Viveremos mais leves e com mais sabedoria no
entendimento das relações familiares e podemos reverenciar nossos antepassados
com mais sabedoria e amor sem apego, permitido que cada membro da família viva
o seu “Destino.” Cada um com sua missão e no seu lugar no sistema familiar.
Ainda estou me aprofundando no estudo
desse método terapêutico criado por Hellinger, mas acredito que é um caminho
de conhecimento que possamos utilizar para entendimentos de muitas causas que
afligem os relacionamentos de pais e filhos e que se estendem aos outros
membros familiares.