quinta-feira, 11 de agosto de 2011

PAIS: ENTRE AS SUAS CRENÇAS E O AMOR AOS FILHOS


Com a permissão da pessoa envolvida, resolvi escrever este artigo com objetivo de contribuir com pais que têm a acesso a esse blog possam refletir sobre como as nossas tomadas de decisões e atitudes influenciam a vida dos filhos para sempre.  

Conversei com uma colega, a pedido de uma amiga em comum, sobre algo “terrível” que aconteceu com sua família há duas semanas.

Nossa conversa começou assim: “Meu amigo, preciso de ajuda. Algo terrível aconteceu com minha família. A minha vida e do meu filho está acabada. Não sei o que fazer.”

Perguntei o que havia acontecido. Aos prantos ela começou a narrar o acontecido: O filho de quatorze anos de idade viajou de férias das aulas com parentes do pai para o litoral.  Chegando de volta em casa, animado e feliz, foi ao encontro do pai para abraçá-lo.

Nesse momento o pai percebeu que no braço do filho havia uma “tatuagem” – na verdade uma henna (aqueles desenhos que são feitos com tinta lavável). Uma brincadeira, simplesmente uma brincadeira que pessoas de todas as idades participam nas ocasiões em que estão na praia.

Nesse momento o pai entrou em desespero e em total descontrole começou a xingá-lo, dizendo que o “demônio” havia tomado o corpo do filho, que “aquilo” não era o seu filho, que o menino tinha que ir embora enquanto a diabo tivesse naquele corpo, atitudes de agressão física, psicológica  e moral, e muito mais coisas horríveis”.  Nas palavras da mãe.

A mãe na intenção de proteger sua cria também foi atingida pelas palavras, ataques e agressividade do esposo em descontrole total. Atualmente ambos – mãe e filho - estão vivendo em casa de parentes que os acolheram com bondade, compreensão e amor.

Quis saber da mãe o que levou o esposo ter aquele comportamento tão agressivo com seu próprio filho e com a esposa. Nas palavras da mãe: “Nós freqüentamos uma Religião Cristã e o meu esposo é membro dessa entidade, que condena veementemente qualquer tipo de ‘adorno’ no corpo. Afirmam que essas atitudes e comportamentos são ‘influências diabólicas’. “E também acho que ele ficaria com muita vergonha se alguém da comunidade religiosa visse ou soubesse de algo nesse sentido com membros de nossa família.”

E ainda, segundo a mãe, para agravar o seu sofrimento, o filho disse-lhe com toda “força da palavra” que nunca mais voltará à casa dos pais, e que se o demônio existir seria o pai.  E quando for maior de idade – daqui a quatro anos – vai sumir no mundo.

A essa mãe só podemos recomendar a incutir na própria mente e na do filho a busca pelo perdão e pela compreensão da atitude do esposo e pai. Saber que o desespero e descontrole que o levaram às suas atitudes se devem provavelmente à incompreensão, ao medo, a insegurança e às suas carências no decorrer da vida, que podem ter impossibilitado de adquirir paciência e sabedoria para atuar e conduzir acontecimentos dessa natureza, dentro de sua família, e agir com respeito e amor.

Na verdade “tragédias” nas famílias por motivos de crenças religiosas (como essa), as de cunho moral, de preocupação as com aparências e muitas outras acontecem todos os dias no mundo todo. Não sou contra as religiões – acredito que religião tem sua função benéfica na evolução da humanidade. O que não é bom é a fé praticada sem Amor, sem bondade e sem sabedoria, “A fé cega e primitiva”.

A fé que leva pais, mães, familiares e as demais pessoas à discriminação, à intolerância, ao julgamento e à agressividade, mesmo as mais sutis, nos relacionamentos é uma fé míope e destorcida. É prejudicial.

Muitos pais, quando descobrem qualquer atitude e comportamento dos filhos ou filhas que não lhes agradam e não concordam por medo, receio de que os outros vão pensar, ou por suas crenças morais e religiosas entram em desespero chegando a atingir a dignidade, a moral, auto-estima e a alma dos seus filhos para sempre. 

Na nossa experiência e convívio com alguns adolescentes e jovens adultos que tem pais e mães com conceitos morais, religiosos inflexíveis (perto do fanatismo)  , que impossibilitam o diálogo e a compreensão sobre atitudes dos filhos, chegam a nos confessar que não deixam de fazer ou experimentar qualquer curiosidade ou moda relacionadas à fase da idade que estão passando.

Alguns afirmam que fumam, ingerem bebidas alcoólicas, iniciaram atividade sexual, usam piercing, tatuagens e outros afirmam até que usaram ou usam algum tipo de drogas ilícitas sem, no entanto seus pais nunca imaginarem. Pedem a nós a confidencialidade. 

Pais com essas atitudes têm uma visão distorcidas de seus filhos e de sua família. Acreditam que seus filhos e filhas são diferentes dos demais adolescente e jovens porque os “proíbem” de fazer ou se comportar de certa maneira. Na verdade acredito, particularmente, que eles têm medo e insegurança de encarar de forma adequada essa fase delicada e que exigisse compreensão, paciência, doação, analise e muita sabedoria.  

Concordo que não é uma tarefa das mais fáceis, para nós pais. Não somos preparados para esses tipos de relacionamentos, de convivência, de diálogos onde inicialmente estamos sempre controlando as ações dos filhos quando pequenos e de repente temos que abrir mão desse controle e dialogar, negociar, ter sensibilidade aos sentimentos e dividir a vida do filho ou da filha com eles o que antes era somente gestão dos pais. Naturalmente muitos de nós, ficamos perdidos.  

Sabemos que cada geração cria sua “moda”, seus hábitos, suas linguagens, suas buscas, suas características básicas que diferenciam uma geração da outra. Nada que prejudique a si próprio e as pessoas, se orientado e acompanhado com respeito pelos pais. Isso é simplesmente uma forma de diferenciação de épocas, depois tudo passa.

Nós, pais, mães ou aqueles que desempenhem  papeis de genitores, orientadores, educadores, cuidadores e guardiões de pessoas em fase de formação em muitas áreas da vida, temos a responsabilidade e o dever de procurar nos despir de todo e qualquer tipo de preconceito e discriminação, sejam elas morais ou religiosas, que nos levem a criar obstáculos no entendimento, compreensão e uso da sabedoria para respeitar cada filho ou filha como um Ser Espiritual Único. Mesmo não sendo uma tarefa fácil.

Nosso dever é orientá-los para um caminho de segurança, auto-estima, respeito, de aceitar as diferenças, do amor e da espiritualidade. Para que caminhem sempre em direção a confiança e a esperança na vida e nas pessoas.