segunda-feira, 12 de novembro de 2012

REVERÊNCIAS AS MULHERES DAS GERAÇÕES PASSADAS

" O maior bem que existe é, naturalmente, a vida. ...recebemos da mãe a vida na sua totalidade. Nenhuma mãe pode subtrair de seu filho algo que a vida lhe deu, e nenhuma mãe pode acrescentar algo a essa vida." 

Bert Hellinger




Participei de um Workshop que dentre os temas abordados foi sobre a “A nossa Criança Interior”. 

Por ser a maioria dos participantes serem mulheres e também pelo histórico da caminhada do gênero feminino fiquei mais envolvido em observar o desenrolar das buscas e das angustias que essas mulheres carregam em suas almas.

Nos mais diversos ambientes - no trabalho, nas escolas, nas universidades, família e diversos outros - encontramos mulheres de todas as idades, classe social, nível de escolaridade buscando todos os dias “provar” que tem capacidade e competência para executar, planejar e decidir sobre os mais variados temas e assuntos da vida, em igualdade com os homens. É uma luta constante!

As mulheres vêm conquistando melhores postos no mercado de trabalho, participação na política, em cargos públicos, gerenciando pessoas em grandes empresas, na vida social e em muitos outros ambientes.

Concordo que apesar destas conquistas, ainda hoje existem muitas a serem buscadas para que efetivamente possa existir o equilíbrio e igualdade entre os gêneros.

Então, por que nos consultórios de psicólogos, psicoterapeutas e outras terapias de autoconhecimento existem muitas mulheres buscando se livrar de suas angustias e tristezas nas almas, aparentemente por sentirem injustiçadas pela condição de terem nascidas com gênero feminino?

Nessas terapias,terminam por perceberem que as verdadeiras causas desses sentimentos não têm ligação direta com conquistas, mas na falta da conexão harmoniosa com o passado e o destino da vida dos pais, em especial com a mãe.

Inicialmente a maioria nega veementemente a existência de algum sentimento que avalia ser vergonhoso de se ter em relação à mãeTalvez seja um dos motivos da dificuldade de muitos de nós não procurarmos ajuda por não reconhecer nossas emoções, sejam elas quais forem. E carregá-las indefinidamente em nossa alma é sentenciar sofrimentos de tristezas e angustias no coração.

Mas no decorrer do processo terapêutico o coração vai se abrindo e descortinando emoções “guardadas” nos mais escondidos cantos da alma. Sentimentos desconhecidos do consciente, mas secretamente ancorados nos cantos mais escuros do subconsciente.

Descobre-se que inconscientemente carregam consigo criticas, julgamento, rejeição, magoa e ressentimentos em relação às atitudes, relacionamento conjugal  e decisões da mãe sobre a vida, postura diante dos homens da família e outras.

Devido a esses sentimentos – mesmo que registrados no subterrâneo da mente - quando iniciam sua vida adulta consciente ou inconscientemente decidem por não repetir as decisões, as atitudes e o comportamento da mãe. Ou seja:“Serei melhor que meus pais. Serei uma mulher diferente e melhor que minha mãe e todas as mulheres da família”. 

Iniciam a vida profissional focada em ser melhor, conquistar o sucesso, ser “independente” financeiramente e livre do “domínio” masculino. Sempre no foco de ser diferente e melhor que as mulheres das gerações anteriores.

Também iniciam a formação da família com a decisão: “O meu relacionamento com o marido não será igual ao da minha mãe”. “Não serei dominada por homem nenhum como foram às mulheres da família”

Já na educação dos filhos é onde há, por muitas mulheres, percepção de mais “erros” cometidos pelos pais. Tem a idéia fixa de fazer tudo diferente. Ser uma mãe melhor que todas as mulheres da família. Cria em suas mentes uma batalha constante em ser melhores em todas as áreas da vida humana. Uma verdadeira luta mental.

Como foram as vidas as mulheres das gerações passadas? As nossas tataravós, bisavós, avós e mães viveram épocas difíceis, de submissão, discriminação, limitadas em seus sonhos, rejeitadas, sem muitas realizações pessoais e a maioria delas aprisionadas em seus lares. Viveram em gerações em que o entendimento sobre a verdade e os valores era outro, sem o reconhecimento do papel feminino na família, na sociedade e como ser humano.

Essas mulheres, ainda que com a oposição de muitos - maridos, pais e da sociedade - pensando no futuro de suas descendentes desafiaram as regras, normas e as verdades de suas épocas e silenciosamente e com sabedoria começaram uma revolução dentro de seus lares para que as mulheres das gerações futuras pudessem levar uma vida mais leve.

Mesmo enfrentando as situações dolorosas na família, maltratadas, rejeitadas e humilhadas marcaram seus rostos, suas mãos e seus corpos, trabalharam dia e noite como domesticas, nas suas cozinhas, nas roças e nos quintais para que suas filhas pudessem estudar, sonhar, ter profissão e conquistar uma vida melhor.

Acredito que fizeram com determinação, persistência, dedicação, coragem e sabedoria. Não sentiram a necessidade de tirarem suas roupas e irem as ruas protestar por direitos. Trabalharam silenciosamente num ambiente restrito com sabedoria e amor.   

Nas ultimas décadas a educação e formação das meninas dentro da família, nas escolas, universidades, na sociedade no geral sofreram mudanças significativas. Estão mais livres para buscar o melhor caminho para felicidade e realização pessoal.

Atribuímos essas conquistas à sabedoria, coragem, determinação, persistência e ao amor das mulheres das gerações passadas a suas descendentes. Foi o melhor que elas puderam fazer considerando todas as limitações, regras, medos, condições e o ambiente de cada época.

Acredito que essas mulheres nos ensinaram muito sobre humildade, sabedoria, amor, sonhos e persistência.  Agora cabe as gerações seguintes continuar esse trabalho iniciado no passado com coração livre de magoas, ressentimentos e revoltas.

O que elas fizeram foi por amor e dentro dos limites e conhecimento que tinham. Todos nós – homens e mulheres – deveríamos ter sabedoria para compreender esses ensinamentos deixados e seguir adiante com gratidão.

Devemos nos curvar diante de cada uma dessas mulheres e com profundo sentimento de respeito e gratidão reverenciá-las. E para honrá-las e homenageá-las, as descendentes deveriam seguir adiante sendo e fazendo o melhor como pessoas em todas as áreas da vida. Porém absolvendo os ensinamentos positivos deixados com o sentimento de gratidão, admiração e reverência. 



sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A MÃE E A CONEXÃO DOS FILHOS COM PAI!



Grande parte dos textos postados aqui no blog é sobre o papel dos pais e as conseqüências na vida dos filhos. 

Mas no texto de hoje quero comentar sobre os filhos que tem comportamentos e atitudes inconseqüentes e de onde vem esse comportamento.

Esse assunto vem atender pedidos de alguns filhos, leitores do Blog SOMOS TODOS APRENDIZES, por entenderem que existem filhos injustos e ingratos com seus pais, mesmo estes genitores fazendo o melhor.

Numa conversa com um pai sobre os textos postados aqui no blog, ele lamentou sobre a conduta do filho. Disse-me: “Meu filho não me respeita e também em muitas circunstâncias não respeita outras pessoas. E mãe sempre está defendendo-o e fazendo tudo o que ele quer, do jeito dele”.

A situação descrita por esse pai não é exclusiva. "Observamos" em todas as gerações a existência de alguns jovens com comportamentos inconseqüentes, arrogantes, sem discernimento e mal educados.  Isso constitui falta de ética, de educação, de respeito e de espiritualidade. A causa dessa formação vem de dentro da família.

Jovens adultos com comportamento desrespeitosos com os próprios pais, agressivos no transito, mal educados com vizinhos, que ligam som alto não se importando com direito de terceiros, estacionam seus carros em qualquer lugar atrapalhando e dificultando o transito dos demais, quando convidados em um evento social levam consigo convidados seus sem consultar o anfitrião, entre outros exemplos. Esses comportamentos e atitudes podemos atribuir a pessoas inconseqüentes, sem discernimento, egoístas e arrogantes.

Por que então muitos outros jovens são pessoas equilibradas, educadas, suaves, tranqüilas, carismáticas e bem recebidas sempre aonde vão, diferente dos mencionados no parágrafo anterior?

Imagino que tudo começa nas atitudes dos pais, precisamente na relação com a mãe. Para os terapeutas, grande parte das pessoas tem uma ligação com a mãe que está perturbada. A mãe tem uma missão grandiosa e importantíssima na vida dos filhos que é fazer a conexão dos filhos com o pai. Somente a mãe tem esse poder, ninguém mais pode criar essa conexão do filho com o pai.

Como a mãe faz essa conexão? No livro “Um lugar para os Excluídos” o autor Bert Hellinger ensina: “A mãe ama no filho o pai. Demonstrando ao filho que ela se alegra se o filho se tornar igual ao pai, o filho sente: Ela se alegra se eu me aproximo do meu pai. 
Isso abre caminho para o filho, e ele ganha uma força especial. Antes de tudo, ama a sua mãe muito mais do que antes”.

Existem, neste caso, dois tipos de mãe: O primeiro é aquela que prioriza a vida dos filhos em detrimento a vida do casal. Para esse tipo de mãe as escolhas, as vontades e exigências dos filhos têm precedência em relação à vida dos pais. Na conduta dessa mãe a hierarquia da família está em desordem, invertida. Os filhos são colocados no topo da estrutura da família. Os pais ficam “subordinados” as ordens e exigências dos filhos.

Filhos formados nesse ambiente geralmente crescem arrogantes, exigentes, inconseqüentes, egoístas, manipuladores, controladores, exigem sempre mais, sentem-se maiores e com mais poderes que o pai e desrespeitam a mãe. São na maioria das vezes pessoas inseguras, fracas, indecisas e pior ainda, prejudiciais a sociedade.

Em muitos casos de desarmonia conjugal e separações de casais a família se encontra no formato desse tipo de estrutura: desordem e inversão da hierarquia. 

O segundo tipo de mãe é aquela que tem definido em sua alma e coração a estrutura familiar de acordo com as leis naturais.  Onde o casal tem precedência e prioridade e logo após vem os filhos. Os pais são colocados por essa sábia mãe no topo da hierarquia familiar. A mãe não está a serviço exclusivo dos filhos, não pará tudo e vai atender as vontades e exigências deles deixando em segundo plano a si e o pai.

Filhos que crescem neste cenário aprendem os limites estabelecidos dentro da família e na sociedade, são humildes, seguros, suaves, tranqüilos, tem gratidão a suas origens, vivem em gratidão com a vida e o mundo, respeitam as “autoridades”, vivem em paz consigo e com a vida.

A mãe tem a energia da criação. O pai a energia que representa transformação e força. Ele no papel de genitor estabelece limites, delineia as diretrizes da educação, forma o caráter e outros atributos necessários aos filhos para seguir com a vida mais leve. Já a mãe é responsável por incutir e interiorizar essas diretrizes na mente e na alma dos filhos.

Filhos sem essa conexão crescem faltando uma parte de si – a parte que vem da energia masculina, uma influencia positiva e equilibrada com a da energia da mãe.

As conseqüências na vida dos jovens adultos sem o papel da mãe de conectar seus filhos à energia do pai são pessoas sem objetivos claros na vida, começam projetos e sonhos e não terminam nenhum, os relacionamentos são de má qualidade, sem coragem para enfrentar os desafios da vida, querem sempre receber mais e mais da mãe. As meninas têm dificuldade em dizer não nos relacionamentos prejudiciais a sua vida, nunca se sentem preenchidos com que recebem dos pais e da vida. Sempre estão sentindo vazio no coração e na alma.

Essa conexão feita pela mãe ao pai é a chave de tudo. A partir daí o modelo dessa relação vai para os outros relacionamentos da vida, de forma mais tranqüila, mais leve, harmoniosa, respeitosa e mais espiritualizada.


Nota: Pai e mãe que me refiro aqui não somente os biológicos, mas qualquer pessoa responsável pela formação- como avô, tio, padrasto, avó, tia e outras.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

SEU FILHO PODE ESTAR PROCURANDO AJUDA!



"A presença de filhos em nossa vida é um mistério muito belo que somente será desvendado por aqueles que tiverem a coragem e a sabedoria de ir além das simples regras da educação"
                                                                                       Roberto Shinyashiki


Depois de algum tempo sem postar no Blog SOMOS TODOS APRENDIZES estou de volta.

Nesse período estive envolvido com algumas questões que me trouxeram experiências, aprendizados e conhecimento sobre relacionamentos, família e espiritualidade.  

Pretendo partilhar com os leitores no decorrer das postagens de novos textos aqui no blog.

Deste que postei o texto “Pais Controladores” tenho recebido e-mails de leitores pedindo pra eu escrever mais sobre esse assunto. Em especial um garoto com idade em torno de quatorze anos e aparentando “desespero”. Afirma que não quer ficar no futuro um adulto como o descrito no texto.

Este adolescente tem a preocupação de ser um adulto seguro, equilibrado, respeitado e admirado pelos pais e pelo mundo. Um jovem que já carrega em sua alma ansiedade quanto ao seu futuro em relação aos seus pais. Uma grande pena!

Esse jovem adolescente tem uma alma boa. Busca conhecimentos e uma forma de entender as atitudes e o comportamento dos seus pais e visualiza um futuro brilhante para si.     

Existem alguns pais e mães que por suas carências, suas limitações e seus medos adquiridos na infância ou mesmos recebidos pela hereditariedade terminam por “matar” a vida dos filhos. Sim,“matar”.

Pais inseguros, carentes, imaturos e fracos geram sofrimentos no coração dos filhos, contribuindo para uma vida adulta difícil e insegura que termina estendendo-se a gerações seguintes.

Às vezes presenciamos pais e mães de crianças pequenas com atitudes desrespeitosas aos sentimentos e emoções dos seus pequenos no propósito de “educar”. Estes pais colocam seus filhos em situações de vergonha, vexame, humilhação e inferioridade diante das pessoas. 

Acredito que a partir da adolescência até a fase adulta todos esses ressentimentos e magoas vão brotar como sentimentos de revolta, insegurança, medo e tristeza na alma desses filhos. Uma pena que esses pais não tenham consciência disto.

Os pais são responsáveis por criar um ambiente mais leve para o desenvolvimento, aprendizado e evolução dos filhos.

Com o propósito de se libertar de suas limitações, os pais devem buscar o autoconhecimento com objetivo de minimizar os sofrimentos e tristezas na alma dos filhos e amarguras na própria vida.   

Filhos com pais controladores e desrespeitosos são geralmente impedidos de realizar, descobrir, experimentar e conquistar desafios na fase da vida em que estão mais ansiosos para aprender e descobrir seus limites.

Os pais devem transmitir confiança e respeito aos filhos para que eles possam experimentar e aprender em cada fase da vida a descobrir o mundo e saber como ele funciona.

Os filhos precisam da confiança e respeitos dos pais. Quando estes confiam em seus filhos, demonstram dando liberdade, confiança e respeito.O que vale em qualquer idade.

Quando os filhos sentem que os pais confiam neles, desenvolvem autoconfiança, responsabilidade, segurança, senso do certo e do errado, bem e do mal e o mais gratificante: a alegria diante da vida. 

Atitude assim cria uma conexão com os filhos.  Eles têm a alegria de compartilhar situações, vivencias e experiências de sua vida com pais.

Do outro lado, quando não existem confiança e respeito dos pais pelos filhos demonstrados desde que estes são crianças, podem crescer tristes, frustrados, deprimidos e até mesmo revoltados com os pais e com a vida.

Ha situações que os pais se vêem diante de circunstancias em que devem decidir em permitir ou não algo que os filhos estão lhe pedindo.  Na maioria das vezes deixam a sabedoria e amor de lado e decidem com ego.

Ficam ligados aos seus próprios sentimentos, preocupações, ansiedades e medo. Considerando que é mais fácil, pratico e cômodo dizer não, proibir, gritar e encerrar o assunto com o filho. Desrespeitando-os como se neles não existissem sentimentos e emoções.

No futuro o “preço” apagar é muito alto para ambos. Esse filho que está no momento sob o poder e a autoridade dos pais um dia se tornará um jovem adulto e essas marcas, traumas e ressentimentos podem trazer complicações na relação com os seus genitores e com as pessoas.

Tive algumas experiências de aprendizado nesse sentido de grande importância com nossos filhos. 

Uma delas foi com nosso filho caçula, na época com dezesseis anos idade. Ele me chamou e disse que queria passar o carnaval em Porto Seguro com um casal de amigos dele. Imagine um adolescente com a aquela idade viajar no carnaval com um casal que eu nem conhecia ainda.  

Comecei a fazer minhas perguntas e questionamentos. Num determinado momento da conversar ele olhou nos meus olhos e disse: “Pai o medo é seu, não é meu. Você tem que controlar seu medo”. 

Naquele momento a vida dele e o nosso relacionamento poderiam tomar caminhos diferentes ia depender do que eu iria falar e da minha decisão.Pensei e decidi pela confiança e pela liberdade que ele estava buscando. Dai pra frente nasceu entre nós comprometimento, respeito e admiração. A vida dele seguiu para um caminho mais leve e de conquistas.

Numa outra situação a nossa filha queria mudar da nossa casa - ir morar com uma colega da universidade.  Aquilo me perturbava tanto, por eu não entender o porquê.

Um dia fomos conversar sobre esse desejo dela. Falei dos benefícios que ela tinha de morar conosco. Depois perguntei por que, e ela me disse com todas as letras: “Pai é meu sonho, sempre tive essa vontade”.

Naquele momento me vi diante de uma situação semelhante à anterior com nosso filho caçula. Deveria ter uma atitude que também demonstrasse confiança, respeito e o apoio para que ela pudesse realizar seu sonho.

Dependendo da minha atitude naquele momento poderia decretar na vida dela insegurança, falta de respeito e rejeição. Mas decidi mais uma vez pela confiança, apoio e compartilhar esse sonho. Deu certo.

Acredito que nos dois casos todos nós aprendemos, mas o aprendizado maior foi para vida deles.

É bom lembrar que dentro de cada um de nós existe uma Alma individualizada, única.
Cada filho tem um jeito especial e os pais devem respeitá-lo da maneira que é. Simplesmente amá-lo.  

Os filhos criados com respeito, afeto e amor são pessoas seguras, confiantes, dóceis e felizes.

Eles não são nossos. São pessoas individualizadas, almas únicas que estão aqui para seguir seu próprio caminho. Somos apenas companheiros viajando juntos por um breve tempo e aprendendo um com o outro.

sábado, 5 de maio de 2012

AMOR DOS AVÓS DEVE SER COM SABEDORIA


"Ter filhos é desejar um mundo melhor"



Eu já havia concluído o texto anterior – “AMOR DOS AVÓS” - quando encontrei uma jovem senhora conhecida e nas nossas conversas contei-lhe a felicidade com a notícia de que íamos ser Avós.

Ela, com expressão de decepção, tristeza e angústia, contou-me sua experiência em relação aos seus sogros no papel de avós de seus dois filhos e sobre a ingerência deles em sua família.

Disse: “Meu marido não tem forças e determinação para impor os limites e mostrar aos pais que agora ele tem uma família, e que a responsabilidade dessa família é do casal. E nem que agora ele é adulto.” Pude perceber que existia muita mágoa e ressentimentos em suas palavras e no coração. Que triste!

Ainda me disse que o casal está buscando orientação com profissionais especializados em terapias de família. 

A situação vivida por essa jovem senhora despertou-me o sentimento de preocupação e responsabilidade para o nosso papel de avós.

A formação de uma nova família e a chegada de um novo membro são motivos de felicidades e alegria para todos. No entanto, quando algumas pessoas da família se “embaraçam” no destino de outros, terminam por causar aprisionamento. Nesses casos o amor não pode ser bem sucedido.

O formato de cada família é de responsabilidade de sua geração. Cada qual, de acordo a sua época, tem seus sistemas de crenças, níveis diferentes de compreensão espiritual, moral, intelectual e diferentes maneiras de lidar com as diversas situações.

Cada família com sua dinâmica – mesmo mesclando a cultura das duas famílias originais–  ainda assim é única. Tem seus próprios sonhos, sua energia própria, seu caminho a seguir. É uma terceira formação que será de conformidade com missão de seus membros, pertencente somente àqueles que fazem parte desse novo núcleo.

Acredito que a geração anterior já teve sua oportunidade na época adequada àquela família que formou. Com acertos ou não, passou. Não será mais possível consertar possíveis erros e impor os seus “reconhecidos” acertos, principalmente dentro do ambiente familiar dos filhos e netos. A missão agora é deles.

Nos consultórios de terapias familiares e de casais, filhos e filhas, noras e genros, vivem em busca de soluções para suas angustias, ansiedades, tristezas e incertezas por causas atribuídas aos comportamentos e interferências de pais, mães e avós no seu ambiente familiar, na educação e cuidados com os netos.  É o caso da jovem senhora que mencionei no início do texto.      

Alguns pais e avós, pela experiência que a vida lhes proporcionou, têm o julgamento de que sua capacidade lhes dá o “direito” de interferir e orientar a vida dos filhos e netos.


Acredito que realmente os filhos – jovens casais - e os netos, nessa fase da vida, têm grande necessidade dos conhecimentos, da experiência, da disponibilidade e da colaboração dos pais e avós. É uma ajuda necessária e maravilhosa. Porém ela deve vim acompanhada do bom senso, sabedoria e equilíbrio.

Se essa ajuda chegar de forma desordenada, desequilibrada, e sob a forma de controle e domínio no ambiente sobre os membros da nova família, a consequência natural será críticas, julgamentos e reclamações de ambos os lados. 

O que poderia ser relações harmoniosas, alegres, felizes, de colaboração, respeito e confiabilidade, se torna experiência dolorosa, angustiante e de tristeza.  Isso causa afastamentos, distanciamentos e falta de intimidade e liberdade entre pais e filhos, e avós e netos. E essa dinâmica de relacionamento se estende mesmo na fase adulta dos netos.

Ainda nesse ambiente alguns avós criam um tipo de “jogo de poder” sujeitando os pais e os netos a algum tipo de disputa familiar com o propósito de chamar para si a atenção, o carinho e o amor dos netos. Este tipo de comportamento é muito perigoso para a formação psicológica, moral e emocional dos netos e para o relacionamento entre o casal e seus pais.

Alguns avós chegam a colocar em confronto pais e filhos, com objetivo de controlar os netos e demonstrar mais poder a nora, ao genro ou filho e filha. Cria-se uma situação complexa e embaraçosa.

Nos relatos de casos dos consultórios psicológicos e nos seminários de terapias alternativas encontramos mães e pais que chegam em desespero, angústia e tristeza em ter que lidar com esse tipo de disputas e desarmonias.

A orientação da maioria dos profissionais em relacionamentos familiares é que casal deve “criar uma barreira” em torno de sua família com objetivo de protegê-la da energia de disputa, intromissão e controle dos avós e outros membros familiares cujas atitudes colaboram para o desequilíbrio na formação familiar.

Por outro lado, existem avós e avôs que contribuem enormemente com a educação e criação dos seus netos de forma discreta, harmoniosa, respeitando os princípios e as regras “estabelecidas”, os gostos, as crenças e os sonhos da nova família. Simplesmente com amor e carinho aos seus descendentes, sem disputas, críticas e julgamentos.

Na nossa experiência os nossos filhos foram educados e criados com o auxílio da minha sogra – como é da nossa cultura, os filhos geralmente seguem a família da mãe.

Nosso sentimento é que ela teve um papel importantíssimo da vida deles. Posso afirmar que em nenhum momento nos sentimos ameaçados de que os “limites estabelecidos” pela nossa nova família fossem por ela negligenciados. Parece que mesmo sem esses limites terem sidos mencionados ou declarados, ela os tinham claramente em sua mente.

Isso contribuiu bastante para que nossos filhos soubessem de onde vinham as orientações, as decisões,como seriam e de onde vinham os apoios, onde buscar os esclarecimentos, as respostas e principalmente, onde era o núcleo da nossa família. Tivemos resultado positivo. E a ela temos a nossa maior gratidão. Até hoje a influencia da avó e do avô é forte e benéfica à vida deles.  

Quando os pais educam, criam e formam seus filhos num ambiente em que eles sabem quem ditam as regras, quem resolvem os conflitos, a quem eles devem recorrem em situações de riscos, a quem recorrer nos momentos emocionais complexos, e tem em suas mentes os limites bem delineados do seu ambiente familiar, os filhos sentem-se seguros, alegres, confiantes, verdadeiros, crescem amorosos e harmoniosos.

Percebi que os avós tem grande responsabilidade de contribuir para não desestabilizar os relacionamentos na família dos filhos com comportamentos e atitudes exageradas. Devemos nos lembrar que cada pessoa tem sua missão específica e não podemos e nem temos direito de tomar o lugar de ninguém no caminho da evolução.  

sexta-feira, 4 de maio de 2012

AMOR DOS AVÓS!

" As crianças são almas que beijam a Terra."                                                     
                                    Doris Stokes


Dia 16 de fevereiro por volta de 18.30h recebi do nosso genro e da nossa filha uma caneca com os dizeres: “Eu amo meu vovô”.  No momento fiquei meio confuso. Segundos depois entendi que estava sendo noticiado que eu seria Vovô.

Realmente é uma alegria imensa saber que vamos subir na escala da hierarquia das gerações. Vamos poder continuar participando e contribuindo na caminhada e na evolução espiritual dos nossos filhos, convivendo e aprendendo com um novo Ser que também carrega parte de nosso DNA.

 Mentalmente começamos imaginar diversas situações de convivência e relacionamento com aquele neto ou neta que está por vir. Inundamos de alegria e felicidade o nosso coração. Começamos a contar os dias e meses para a chegada “física” do novo membro da família dos nossos filhos. A nossa filha e nosso genro nos presenteou com essa alegria.

Muitos avós e avôs dizem que o amor pelos netos e netas é bem maior e intenso que o amor por nossos filhos. No entanto, não quero acreditar nessa afirmação. Tenho preferência de pensar que o amor pelos nossos filhos continuará sendo grande, forte e intenso e o lugar deles em meu coração e na minha alma sempre existirá, como sempre existiu.

Nossa filha, logo no inicio da gravidez, teve reações fortes de enjôo, tonturas, falta de apetite, teve sensibilidade a cheiros, perdeu peso, e outros sintomas que algumas mulheres grávidas sentem.

Pela minha disponibilidade passei quase três meses ao lado dela todos os dias, fazendo companhia, levando aos médicos, pronto atendimento, consultórios ginecológicos, providenciando alimentação, com paciência, amor e dedicação para lhe transmitir confiança e segurança. Muitas vezes queria assumir todos aqueles sintomas para mim para não vê-la com aquele “sofrimento”. Assim, pude comprovar mais vez que o amor aos nossos filhos continua e sempre existirá em nossos corações. Forte, intenso e incondicional.

Em relação aos nossos netos e netas acredito que eles façam parte da escalada de evolução na vida dos nossos filhos. E nessa linha do tempo das gerações carregam dentro deles emoções e sentimentos que nos envolvem e preenchem nossos corações de amor, alegria e felicidade.

Imagino que para alguns pais, por que os filhos já estão adultos, a manifestação de algumas emoções e intimidade com relação a eles “perderam” a intensidade. E com a chegada dos netos despertam novos sentimentos que envolvem seus corações, alimentam e faz despertar nova força e coragem, animando-os a viver nova etapa da vida com alegria e disposição. Acredito que esses sentimentos  reacendem o amor, a alegria e entusiasmo que estavam “travados”,  impedidos de manifestarem aos filhos, por estes estarem  “distantes emocionalmente” nessa fase de suas vidas,  seguindo o seu caminho como adultos.

Assim acho que por que muitos pais perderam a liberdade e intimidade com os filhos adultos de demonstrarem o amor, o carinho, a dedicação e o afeto, quando os netos e netas chegam a suas vidas,  tem esses sentimentos aflorados e terminam se confundindo com as emoções em relação aos filhos. Acredito que o amor aos filhos esteja em seus corações intenso e forte igualmente quando eles eram crianças, mas agora sem a intimidade e a liberdade para que os pais possam manifestar claramente.  

Percebi, então que ser avô ou avó não é uma tarefa fácil. Na intenção de adquirir algum conhecimento sobre esse novo papel, no dia seguinte fui a uma livraria procurar alguma bibliografia sobre o papel dos avôs na vida dos filhos e dos netos. 

Pude perceber que livros sobre esse tema são raríssimos, mas ainda assim encontrei um livro excelente. Após ler o livro em uma semana, fiquei analisando sobre a responsabilidade e as conseqüências da influência do papel dos avôs na vida da nova família. 

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O TRABALHO E A GRATIDÃO


"Todos fazemos planos, mas a vida tem seus próprios caminhos. A sabedoria nos ensina que ela sempre faz o melhor. Aceitar isso é vencer a frustração"
                                                                               




Na semana passada encontrei uma colega da época em que estudávamos para concurso. Foi um período muito “puxado”. Tínhamos aulas até nos finais de semana e algumas vezes domingo á noite. Foi um período de angustia, ansiedade, incerteza, cansaço e de muito estudo. Ela conseguiu aprovação em um dos concursos mais difíceis, mais desejados e de excelente salário: Analista do Tribunal de Contas da União – TCU. 

Quando ela foi aprovada e convocada, imaginei a felicidade e alegria dela por ter conseguido realizar um sonho tão difícil e que buscava tanto.

Nesse último encontro lhe perguntei como estava em seu trabalho, mas em dez minutos de respostas ouvir reclamações, críticas, julgamentos aos gerentes, diretores, colegas e o governo. “Esse país nosso é uma merda”, ela concluiu.

Enquanto ela lamentava,fiquei ali imaginando os dias e horas que estávamos estudando nas bibliotecas, cursinhos, nas salas de aulas,o cansaço, os lanches rápidos, o transporte coletivo, o sono nas aulas, compras de livros, apostilas e tudo o mais relacionado a essa fase de concursando.

Ainda hoje fico me perguntando para onde foi aquela felicidade, alegria e sentimento de realização quando ela soube da aprovação.  E o sentimento de GRATIDÃO?

Existe a lei da Gratidão, que é um principio natural de ação e reação. A mente grata é constantemente fixada no melhor e por consequência tende a transformar-se no melhor, toma a forma ou a característica do melhor. Imagino que o descontentamento dessa moça pode ser por falta de gratidão.

O sentimento de gratidão vem quando temos a consciência de que é por meio do trabalho que manifestamos a nossa força interior, demonstramos o amor ao próximo, a pátria e oferecemos Luz ao mundo. 

Através do nosso trabalho temos a oportunidade de evoluirmos, de nos doarmos, de aprendermos a nos relacionar com pessoas de personalidade diferentes, esmerilhar e polir nossa alma. O ambiente de trabalho é um dos centros de treinamento e de aprendizado mais complexos que podemos ter neste planeta.

Acredito que a Inteligência Divina nos coloca no lugar apropriado para que possamos aprender o que precisamos naquele momento, com aquelas pessoas, com aquele “chefe”, com aquele trabalho, naquela localidade, e com aquele salário.

Num ambiente de trabalho executamos tarefas que beneficiam o próximo, conhecemos pessoas que nos ensinam lições de vida, lições de companheirismo, lições de comprometimento. Aprendemos a nos doar, aprendemos a nos relacionar com várias pessoas de personalidades diferentes, aprendemos a ter paciência, e ainda recebemos salário por termos essas e outras lições a nossa disposição.  E é claro, ensinamos também.

Muitos reclamam todos os dias de seus empregos, dos colegas de trabalho, de seus chefes, dos salários, do ambiente, da localização e etc. Não tem consciência de que estão diante de uma grande oportunidade espiritual de evolução, e é naquele lugar que estão as grandes lições mais apropriadas para polir nossa alma, nosso ego, nossa arrogância e nosso orgulho, e ainda contribuir com a construção de uma humanidade melhor.

Imagino que, como objetivo primordial da VIDA é a evolução através dos aprendizados nos diversos ambientes colocados a nossa disposição, não adianta fugirmos de um lugar que ainda não “diplomamos”, que ainda não fomos aprovados em todas as lições que tínhamos que aprender naquele local, com aquelas pessoas para ir para outro que achamos que será melhor. Se assim fizermos encontraremos as mesmas situações, pessoas semelhantes às anteriores e acontecimentos parecidos. Será uma fuga sem sentido.

A melhor forma é tentar adquirir a quantidade maior de aprendizados possíveis, naquele ambiente, com a mente dócil e grata,e quando a nossa Alma “avisar” que estamos prontos para uma nova etapa, um novo nível de aprendizado, sairemos com alegria, harmonia e com o sentimento de dever comprido.

Então poderemos seguir adiante para novas lições, em outros lugares e com outras pessoas. Com coração suave e feliz podemos olhar para trás e levar boas lembranças das pessoas, dos relacionamentos, do trabalho e principalmente dos aprendizados adquiridos naquele lugar.

Assim, é possível seguir a vida sem magoas, tristezas, ressentimentos, revolta, medo e raiva, mas com sentimentos que nos guiam na harmonia, alegria, realização e amor.

Estamos aqui, neste mundo, para polir nossa alma e aprender a manifestar a gratidão e o amor a tudo e a todos. Acredito que com essa atitude e sentimentos seguiremos no caminho da evolução espiritual.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

PAIS CONTROLADORES E A VIDA DOS FILHOS



PARTE II

Depois que escrevi o texto “PAIS CONTROLADORES E A VIDA DOS FILHOS”, recebi algumas manifestações de filhos que se identificaram com o tema. Percebe-se que existem muitos jovens adultos que sofrem com as exigências e cobranças de pais que querem controlar as suas vidas.


Um deles, um jovem com mais de 30 anos de idade, preocupado não somente com a própria situação, mais também com de outros filhos em circunstâncias semelhantes, por e-mail me disse: “... quero servir de exemplo pra outros filhos que estão passando pelas mesmas dificuldades”.

Esse jovem descreve o relacionamento com seu pai assim: “Meu pai é um homem bom, hora afetuoso e brincalhão, quando fazemos o que lhe convém, é lógico. Porém controlador, bravo, com todas as características do texto citado. (...) Já sofri muito e venho sofrendo com isso, esse controle dele, o jeito de querer dizer de tudo até o que eu posso ou não fazer...”.

Certamente, esse pai ama seu filho. No entanto, os pais são pessoas normais com suas limitações, suas carências, seus medos, suas angústias, suas inseguranças. E também tem vontades e sonhos, sejam eles pessoais ou familiares.

Os sentimentos positivos e negativos em nossas mentes (não diferente nos pais) quando fortemente enraizados em nossas almas, definem o comportamento, as atitudes e a forma como vamos nos comportar e relacionar diante das circunstancias, das pessoas, nas relações no trabalho, com o mundo e principalmente dentro da família, onde os pais se sentem com o “poder” sobre seus membros. 

Pais que carregam sentimentos negativos em suas mentes de maneira mais intensa, geralmente são pessoas que na infância também sofreram algum tipo de carência, criticas, não aceitação, abandono emocional, rejeição, julgamento e muitas vezes tiveram todos os dias que buscar aceitação das pessoas do seu convívio. Em grande parte dos próprios pais. Como podemos cobrar algo diferente dessas pessoas?

Para filhos de pais com esse perfil, sugiro que busquem a compreensão, a compaixão e principalmente a gratidão por tudo que eles fizeram pelas suas vidas. O autoconhecimento também é um caminho poderoso para o entendimento da nossa capacidade como pessoa. Não é uma tarefa fácil, mas possível. 

Constam em todas as Escrituras Sagradas das Grandes Religiões do mundo: “Honrar Pai e Mãe”, e também na Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade da Seicho-no-ie : “ ... Dentre os teus irmãos, os mais importantes são teus pais. Mesmo que agradeças a Deus, se não consegues, porém, agradecer a teus pais, não estás em conformidade com a vontade de Deus.”

Nas palavras do filósofo Bert Hellinger, os pais entregam aos filhos a totalidade do que possuem: A Vida. E os filhos a recebem na sua totalidade sem nada excluir e sem nada acrescentar. Assim, aceitam a totalidade da vida.

Isso é sublime. É misterioso. É espiritual. É necessário para que os filhos possam seguir adiante com felicidade, alegria e com as bênçãos dos pais e dos antepassados. Aceitando aos pais e à vida como lhe foi dado.

O dever dos pais na vida dos filhos é conquistá-los, desde a infância, com o exemplo de suas atitudes, comportamentos, discernimentos, amor e sabedoria  transmitindo-lhes confiança, respeito e companheirismo.

Os pais devem respeitar seus filhos como espíritos individuais, pessoas únicas, acreditar, admirar e amá-los. Não amor de primeiro estágio – amor apego, mas com amor sublime, acreditando que o filho tem capacidade e sabedoria para seguir adiante.

Um dia os filhos ficam adultos e muitas responsabilidades são apresentadas. Temos que tomar decisões, fazer escolhas, seguir determinado caminho e também muitos formarão suas famílias.  É quando precisamos partilhar.

Creio que as exigências, controles e manipulações dos pais tem como conseqüência diminuir ou minar a autonomia, soberania e o poder dos filhos adultos de decidirem suas próprias vidas. Isso deve ser “combatido” decididamente, com sabedoria e determinação para o bem e felicidade da vida do próprio filho.

Filhos de pais controladores e dominadores que têm a consciência clara do que querem e buscam criam estratégias para se livrarem ou amenizarem as conseqüências das atitudes e ações dos genitores. Os que conseguem tornam-se pessoas fortes, livres, corajosas, equilibradas e se realizam como seres humanos.

Os demais se perdem nos “labirintos” da vida, sem forças para impor suas escolhas, suas crenças e seus sonhos. Vivem como “satélites” a redor desses pais buscando a sua aceitação e aprovação para tudo. Muitos, inconscientemente, se desfazem de suas famílias, apagam seus sonhos e suas crenças para ter essa aceitação. 

Transformam-se em pessoas fracas, lutando sem sucessos, tristes e assistindo a vida passar. Verdadeiras “Almas Perdidas” em conseqüência dos caprichos de seus pais controladores e egoístas. Uma pena!! 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

EXISTEM LEIS QUE REGEM O AMOR NO SISTEMA FAMILIAR


“Você é aquilo que você mais valoriza na vida.”  
“Você é aquilo pelo que está disposto a morrer.”                                                              

                             John Dewey


Quando escrevi o texto: PAIS CONTROLADORES E A VIDA DOS FILHOS o nosso filho caçula pediu-me para escrever também sobre os comportamentos de filhos.  Não visão dele existe alguns filhos e filhas que não demonstra gratidão e respeito pelos seus pais apesar destes fazerem o que podem pelos filhos. Achei interessante essa percepção.

 

Então resolvi pesquisar por que a convivência e o relacionamento entre pais e filhos são envolvidos por tantos sentimentos contraditórios como culpa, ressentimentos, magoa, tristezas, angustias. E do outro lado, amor, dedicação, doação, respeito e amparo. As conseqüências desses sentimentos em suas vidas seguem geralmente por toda a existência e estendem-se às gerações seguintes.

As Escrituras Sagradas das grandes religiões do mundo ensinam cada uma de sua forma, que os filhos devem: “honrar pai e mãe”. Acredito que para muitos filhos e filhas, esse sentimento não é tão simples de ser colocado em prática na sua totalidade, sem que exista alguma barreira emocional.

Para muitos pais e mães são desconhecidos os ensinamentos e orientações de como se livrar de suas próprias emoções negativas que receberam e carregam de seus próprios pais, que por sua vez receberam de seus antepassados, e evitar a transferência de parte deste “lixo emocional” para seus descendentes. 

Em 1980, filósofo e terapeuta alemão Bert Hellinger, desenvolveu um método ou técnica de acessar o inconsciente pessoal e coletivo da família através de procedimentos em grupos terapêuticos. Deu o nome de Constelação Familiar, depois de Movimentos da Alma, e atualmente Movimento do Espírito – uma Ciência dos Relacionamentos.

Esse método é um modo terapêutico de ação que tem como objetivo visualizar a “Ordem” na família, mostrando qual o lugar de cada um. Não é ditame, coerção, nem regras fixas, mas a ordem do amor. São leis naturais que governam todo o sistema familiar. O método recoloca o amor de cada membro da família no seu lugar e por isso tira um peso da alma de quem carrega funções que não lhe competem na hierarquia.

Hellinger observou em cada família (clã) as ordens que são necessárias e repetidas ao longo das gerações e em todos os grupos familiares. São elas: o pertencimento, a hierarquia e o equilíbrio. Ele denominou de “ordens do amor na família”.

No Pertencimento perpetuam os vínculos afetivos por amor profundo. Cada família (clã) ou grupo familiar exige que todos os seus membros tenham o mesmo direito de pertencer. Essa exigência é inconsciente/oculta. Essa ordem “oculta” ou inconsciente da família (clã) exige compensação, caso haja desordem e exclusão.
Então, os excluídos, negados ou esquecidos devem ser representados nas gerações futuras. Uns irão tomar o lugar do excluído e farão igual na geração posterior. Aí está o destino.
Na Hierarquia da família (clã) ninguém pode tomar o lugar do outro. A ordem é sempre dos mais antigos para os mais novos. Não se pode inverter a ordem na família, e os mais novos não devem tomar a si as dores dos mais antigos. Isso enfraquece a alma dos antecessores. A desordem, quando estabelecida, traz desequilíbrio e doenças. Esse desequilíbrio pode atravessar de três a quatro gerações com os mesmos distúrbios.

O Equilíbrio na família (clã) é restabelecido quando o sistema fica estável e quando o dar e o tomar se equilibram. O certo é que os pais dão e os filhos tomam aquilo que querem. A arrogância dos filhos para com os pais não ganha sentido positivo nas suas realizações de vida. Fracassam e exigem um peso excessivo aos filhos.

Nas palavras de Bert Hellinger a “Ordem do Amor entre pais e filhos” funcionam assim:
“O primeiro ponto é que os pais, ao darem a vida, dão à criança, nesse mais profundo ato humano, tudo o que possuem. A isso eles nada podem acrescentar, disso nada podem tirar. Na consumação do amor, o pai e a mãe entregam a totalidade do que possuem. Pertence, portanto, à ordem do amor que o filho tome a vida tal como a recebe de seus pais. Dela, o filho nada pode excluir, nem desejar que não exista. A ela, também, nada pode acrescentar.”

“O filho é os seus pais. Portanto, pertence à ordem do amor para um filho, em primeiro lugar, que ele diga sim a seus pais como eles são, sem qualquer outro desejo e sem nenhum medo. Só assim cada um recebe a vida: através dos seus pais, da forma como eles são.”

“Esse ato de tomar a vida é uma realização muito profunda. Ele consiste em assumir minha vida e meu destino, tal como foram dados através de meus pais. Com os limites que me são impostos. Com as possibilidades que me são concedidas. Com o emaranhamento nos destinos e na culpa dessa família, no que houver nela de leve e de pesado, seja o que for.”

“Essa aceitação da vida é um ato religioso. É um ato de despojamento, uma renúncia a qualquer exigência que ultrapasse o que me foi transmitido através de meus pais. Essa aceitação vai muito além dos pais. Preciso olhar para além deles, para o espaço distante de onde se origina a vida e me curvar diante de seu mistério. No ato de tomar os meus pais, digo sim a esse mistério e me ajusto a ele.”

“O efeito desse ato pode ser comprovado na própria alma. Imaginem-se curvando-se profundamente diante de seus pais e dizendo-lhes: “Eu tomo esta vida pelo preço que me custou a vocês e que custa a mim. Eu tomo esta vida com tudo o que lhe pertence, com seus limites e oportunidades”. Nesse exato momento, o coração se expande. Quem consegue realizar esse ato, fica bem consigo, sente-se inteiro.”

“Como contraprova, pode-se igualmente imaginar o efeito da atitude oposta, quando uma pessoa diz: “Eu gostaria de ter outros pais. Não os suporto como eles são”. Que atrevimento! Quem fala assim, sente-se vazio e pobre, não pode estar em paz consigo mesmo.”

“Algumas pessoas acreditam que, se aceitarem plenamente seus pais, algo de mal poderá infiltrar-se nelas. Assim, não se expõem à totalidade da vida. Com isto, contudo, perdem também o que é bom. Quem assume seus pais como eles são, assume a plenitude da vida como ela é.” 

Acredito que despertar esse sentimento no profundo da alma e do coração é um ato sublime. Um ato de evolução espiritual. A partir desse momento, imagino que a nossa vida, de nossos filhos, de nossos descendentes e das pessoas com quem convivemos terá outro sentido. Viveremos mais leves e com mais sabedoria no entendimento das relações familiares e podemos reverenciar nossos antepassados com mais sabedoria e amor sem apego, permitido que cada membro da família viva o seu “Destino.” Cada um com sua missão e no seu lugar no sistema familiar.

Ainda estou me aprofundando no estudo desse método terapêutico criado por Hellinger, mas acredito que é um caminho de conhecimento que possamos utilizar para entendimentos de muitas causas que afligem os relacionamentos de pais e filhos e que se estendem aos outros membros familiares.