segunda-feira, 12 de novembro de 2012

REVERÊNCIAS AS MULHERES DAS GERAÇÕES PASSADAS

" O maior bem que existe é, naturalmente, a vida. ...recebemos da mãe a vida na sua totalidade. Nenhuma mãe pode subtrair de seu filho algo que a vida lhe deu, e nenhuma mãe pode acrescentar algo a essa vida." 

Bert Hellinger




Participei de um Workshop que dentre os temas abordados foi sobre a “A nossa Criança Interior”. 

Por ser a maioria dos participantes serem mulheres e também pelo histórico da caminhada do gênero feminino fiquei mais envolvido em observar o desenrolar das buscas e das angustias que essas mulheres carregam em suas almas.

Nos mais diversos ambientes - no trabalho, nas escolas, nas universidades, família e diversos outros - encontramos mulheres de todas as idades, classe social, nível de escolaridade buscando todos os dias “provar” que tem capacidade e competência para executar, planejar e decidir sobre os mais variados temas e assuntos da vida, em igualdade com os homens. É uma luta constante!

As mulheres vêm conquistando melhores postos no mercado de trabalho, participação na política, em cargos públicos, gerenciando pessoas em grandes empresas, na vida social e em muitos outros ambientes.

Concordo que apesar destas conquistas, ainda hoje existem muitas a serem buscadas para que efetivamente possa existir o equilíbrio e igualdade entre os gêneros.

Então, por que nos consultórios de psicólogos, psicoterapeutas e outras terapias de autoconhecimento existem muitas mulheres buscando se livrar de suas angustias e tristezas nas almas, aparentemente por sentirem injustiçadas pela condição de terem nascidas com gênero feminino?

Nessas terapias,terminam por perceberem que as verdadeiras causas desses sentimentos não têm ligação direta com conquistas, mas na falta da conexão harmoniosa com o passado e o destino da vida dos pais, em especial com a mãe.

Inicialmente a maioria nega veementemente a existência de algum sentimento que avalia ser vergonhoso de se ter em relação à mãeTalvez seja um dos motivos da dificuldade de muitos de nós não procurarmos ajuda por não reconhecer nossas emoções, sejam elas quais forem. E carregá-las indefinidamente em nossa alma é sentenciar sofrimentos de tristezas e angustias no coração.

Mas no decorrer do processo terapêutico o coração vai se abrindo e descortinando emoções “guardadas” nos mais escondidos cantos da alma. Sentimentos desconhecidos do consciente, mas secretamente ancorados nos cantos mais escuros do subconsciente.

Descobre-se que inconscientemente carregam consigo criticas, julgamento, rejeição, magoa e ressentimentos em relação às atitudes, relacionamento conjugal  e decisões da mãe sobre a vida, postura diante dos homens da família e outras.

Devido a esses sentimentos – mesmo que registrados no subterrâneo da mente - quando iniciam sua vida adulta consciente ou inconscientemente decidem por não repetir as decisões, as atitudes e o comportamento da mãe. Ou seja:“Serei melhor que meus pais. Serei uma mulher diferente e melhor que minha mãe e todas as mulheres da família”. 

Iniciam a vida profissional focada em ser melhor, conquistar o sucesso, ser “independente” financeiramente e livre do “domínio” masculino. Sempre no foco de ser diferente e melhor que as mulheres das gerações anteriores.

Também iniciam a formação da família com a decisão: “O meu relacionamento com o marido não será igual ao da minha mãe”. “Não serei dominada por homem nenhum como foram às mulheres da família”

Já na educação dos filhos é onde há, por muitas mulheres, percepção de mais “erros” cometidos pelos pais. Tem a idéia fixa de fazer tudo diferente. Ser uma mãe melhor que todas as mulheres da família. Cria em suas mentes uma batalha constante em ser melhores em todas as áreas da vida humana. Uma verdadeira luta mental.

Como foram as vidas as mulheres das gerações passadas? As nossas tataravós, bisavós, avós e mães viveram épocas difíceis, de submissão, discriminação, limitadas em seus sonhos, rejeitadas, sem muitas realizações pessoais e a maioria delas aprisionadas em seus lares. Viveram em gerações em que o entendimento sobre a verdade e os valores era outro, sem o reconhecimento do papel feminino na família, na sociedade e como ser humano.

Essas mulheres, ainda que com a oposição de muitos - maridos, pais e da sociedade - pensando no futuro de suas descendentes desafiaram as regras, normas e as verdades de suas épocas e silenciosamente e com sabedoria começaram uma revolução dentro de seus lares para que as mulheres das gerações futuras pudessem levar uma vida mais leve.

Mesmo enfrentando as situações dolorosas na família, maltratadas, rejeitadas e humilhadas marcaram seus rostos, suas mãos e seus corpos, trabalharam dia e noite como domesticas, nas suas cozinhas, nas roças e nos quintais para que suas filhas pudessem estudar, sonhar, ter profissão e conquistar uma vida melhor.

Acredito que fizeram com determinação, persistência, dedicação, coragem e sabedoria. Não sentiram a necessidade de tirarem suas roupas e irem as ruas protestar por direitos. Trabalharam silenciosamente num ambiente restrito com sabedoria e amor.   

Nas ultimas décadas a educação e formação das meninas dentro da família, nas escolas, universidades, na sociedade no geral sofreram mudanças significativas. Estão mais livres para buscar o melhor caminho para felicidade e realização pessoal.

Atribuímos essas conquistas à sabedoria, coragem, determinação, persistência e ao amor das mulheres das gerações passadas a suas descendentes. Foi o melhor que elas puderam fazer considerando todas as limitações, regras, medos, condições e o ambiente de cada época.

Acredito que essas mulheres nos ensinaram muito sobre humildade, sabedoria, amor, sonhos e persistência.  Agora cabe as gerações seguintes continuar esse trabalho iniciado no passado com coração livre de magoas, ressentimentos e revoltas.

O que elas fizeram foi por amor e dentro dos limites e conhecimento que tinham. Todos nós – homens e mulheres – deveríamos ter sabedoria para compreender esses ensinamentos deixados e seguir adiante com gratidão.

Devemos nos curvar diante de cada uma dessas mulheres e com profundo sentimento de respeito e gratidão reverenciá-las. E para honrá-las e homenageá-las, as descendentes deveriam seguir adiante sendo e fazendo o melhor como pessoas em todas as áreas da vida. Porém absolvendo os ensinamentos positivos deixados com o sentimento de gratidão, admiração e reverência.