" O maior bem que existe é, naturalmente, a vida. ...recebemos da mãe a vida na sua totalidade. Nenhuma mãe pode subtrair de seu filho algo que a vida lhe deu, e nenhuma mãe pode acrescentar algo a essa vida."
Bert Hellinger
Bert Hellinger
Por ser a maioria dos
participantes serem mulheres e também pelo histórico da caminhada do gênero
feminino fiquei mais envolvido em observar o desenrolar das buscas e das
angustias que essas mulheres carregam em suas almas.
Nos mais diversos ambientes - no trabalho, nas
escolas, nas universidades, família e diversos outros - encontramos mulheres de
todas as idades, classe social, nível de escolaridade buscando todos os dias “provar”
que tem capacidade e competência para executar, planejar e decidir sobre os
mais variados temas e assuntos da vida, em igualdade com os homens. É uma luta
constante!
As mulheres vêm
conquistando melhores postos no mercado de trabalho, participação na política,
em cargos públicos, gerenciando pessoas em grandes empresas, na vida social e
em muitos outros ambientes.
Concordo que apesar destas
conquistas, ainda hoje existem muitas a serem buscadas para que efetivamente possa
existir o equilíbrio e igualdade entre os gêneros.
Então, por que nos
consultórios de psicólogos, psicoterapeutas e outras terapias de
autoconhecimento existem muitas mulheres buscando se livrar de suas angustias e
tristezas nas almas, aparentemente por sentirem injustiçadas pela condição de
terem nascidas com gênero feminino?
Nessas terapias,terminam
por perceberem que as verdadeiras causas desses sentimentos não têm ligação
direta com conquistas, mas na falta da conexão harmoniosa com o passado e o
destino da vida dos pais, em especial com a mãe.
Inicialmente a maioria
nega veementemente a existência de algum sentimento que avalia ser vergonhoso de
se ter em relação à mãe. Talvez seja um dos motivos da dificuldade de muitos de
nós não procurarmos ajuda por não reconhecer nossas emoções, sejam elas quais
forem. E carregá-las indefinidamente em nossa alma é sentenciar sofrimentos de
tristezas e angustias no coração.
Mas no decorrer do
processo terapêutico o coração vai se abrindo e descortinando emoções
“guardadas” nos mais escondidos cantos da alma. Sentimentos desconhecidos do
consciente, mas secretamente ancorados nos cantos mais escuros do
subconsciente.
Descobre-se que
inconscientemente carregam consigo criticas, julgamento, rejeição, magoa e
ressentimentos em relação às atitudes, relacionamento conjugal e decisões da mãe sobre a vida, postura diante
dos homens da família e outras.
Devido a esses
sentimentos – mesmo que registrados no subterrâneo da mente - quando iniciam
sua vida adulta consciente ou inconscientemente decidem por não repetir as
decisões, as atitudes e o comportamento da mãe. Ou seja:“Serei melhor que meus
pais. Serei uma mulher diferente e melhor que minha mãe e todas as mulheres da
família”.
Iniciam a vida
profissional focada em ser melhor, conquistar o sucesso, ser “independente”
financeiramente e livre do “domínio” masculino. Sempre no foco de ser diferente
e melhor que as mulheres das gerações anteriores.
Também iniciam a
formação da família com a decisão: “O meu relacionamento com o marido não será
igual ao da minha mãe”. “Não serei dominada por homem nenhum como foram às
mulheres da família”
Já na educação dos
filhos é onde há, por muitas mulheres, percepção de mais “erros” cometidos
pelos pais. Tem a idéia fixa de fazer tudo diferente. Ser uma mãe melhor que todas
as mulheres da família. Cria em suas mentes uma batalha constante em ser
melhores em todas as áreas da vida humana. Uma verdadeira luta mental.
Como foram as vidas as
mulheres das gerações passadas? As nossas tataravós, bisavós, avós e mães viveram
épocas difíceis, de submissão, discriminação, limitadas em seus sonhos,
rejeitadas, sem muitas realizações pessoais e a maioria delas aprisionadas em
seus lares. Viveram em gerações em que o entendimento sobre a verdade e os
valores era outro, sem o reconhecimento do papel feminino na família, na
sociedade e como ser humano.
Essas mulheres, ainda
que com a oposição de muitos - maridos, pais e da sociedade - pensando no
futuro de suas descendentes desafiaram as regras, normas e as verdades de suas
épocas e silenciosamente e com sabedoria começaram uma revolução dentro de seus
lares para que as mulheres das gerações futuras pudessem levar uma vida mais
leve.
Mesmo
enfrentando as situações dolorosas na família, maltratadas, rejeitadas e
humilhadas marcaram seus rostos, suas mãos e seus corpos, trabalharam dia e
noite como domesticas, nas suas cozinhas, nas roças e nos quintais para que
suas filhas pudessem estudar, sonhar, ter profissão e conquistar uma vida
melhor.
Acredito que fizeram
com determinação, persistência, dedicação, coragem e sabedoria. Não sentiram a
necessidade de tirarem suas roupas e irem as ruas protestar por direitos.
Trabalharam silenciosamente num ambiente restrito com sabedoria e amor.
Nas ultimas décadas a
educação e formação das meninas dentro da família, nas escolas, universidades,
na sociedade no geral sofreram mudanças significativas. Estão mais livres para
buscar o melhor caminho para felicidade e realização pessoal.
Atribuímos essas
conquistas à sabedoria, coragem, determinação, persistência e ao amor das
mulheres das gerações passadas a suas descendentes. Foi o melhor que elas
puderam fazer considerando todas as limitações, regras, medos, condições e o
ambiente de cada época.
Acredito que essas
mulheres nos ensinaram muito sobre humildade, sabedoria, amor, sonhos e
persistência. Agora cabe as gerações
seguintes continuar esse trabalho iniciado no passado com coração livre de
magoas, ressentimentos e revoltas.
O que elas fizeram foi
por amor e dentro dos limites e conhecimento que tinham. Todos nós – homens e
mulheres – deveríamos ter sabedoria para compreender esses ensinamentos
deixados e seguir adiante com gratidão.
Devemos nos curvar diante de cada uma dessas mulheres e com profundo
sentimento de respeito e gratidão reverenciá-las. E para honrá-las e
homenageá-las, as descendentes deveriam seguir adiante sendo e fazendo o melhor
como pessoas em todas as áreas da vida. Porém absolvendo os ensinamentos
positivos deixados com o sentimento de gratidão, admiração e reverência.